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Espaço Aberto – Corte dos juros e turbulência à vista

Se existe algo desagradável para passageiros de avião, além da espera nos aeroportos, esse algo é a turbulência. Para os pilotos, dependo do tamanho da tempestade, o melhor é sempre desviar a rota.


Muitos criticaram a visão apocalíptica da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de reduzir a taxa básica de juros (Selic) de 12,50% para 12% ao ano, antecipando-se assim a uma eventual tempestade econômica internacional. Alguns até argumentaram que a decisão foi política e não técnica.


A grande verdade é que com os juros nas alturas, diante do cenário, o melhor ainda é ter um raciocínio aéreo, ou seja, desviar a rota para amenizar as turbulências. É bem verdade que se nada acontecer, e se o nosso parceiro maior, a China, continuar consumindo, pagaremos um preço pela rota mais longa: um eventual cenário de inflação.


Mas aqui, estando em terra firme, sentado neste sofá aqui na minha sala, e não num avião observando o balanço do refrigerante do meu copo, entendo que a decisão não foi errada. Senão, vejamos: a economia americana ainda não dá sinais de recuperação, a Europa se encontra em desequilíbrio econômico, o Japão dependente dos EUA, ainda conta os números do prejuízo pelo desastre provocado pela natureza, ou seja, estes polos de estrutura econômica enfraquecendo, pela lógica dos efeitos terrestres e, por que não, aéreos.


Tudo isso afetará sim a dinâmica interna da economia chinesa e de todos os emergentes, o que, por sua vez, encolherá o apetite chinês pelas nossas commodities, restando-nos apenas fortalecer o nosso mercado grande interno.


Mas até aí alguns poderiam dizer que até agora, lá fora, nenhum banco quebrou, e que houve então precipitação por parte do Banco Central. Sinceramente, ainda estando em solo firme, prefiro por cautela a postura tomada pelo Copom.


Tenho medo de turbulências e se nenhum avião sofreu os efeitos de uma forte turbulência nos últimos anos, é pelo fato de terem mudado de rota. E lembrem-se daqueles que insistiram em enfrentar as tempestades sem os devidos ajustes aéreos e se perderam no mar. Tenho medo de turbulências, mesmo sentado neste antigo sofá, economia e avião se enfrentam apertando os cintos e mudando a rota, além de rezar, é claro, o que também ajuda.


 


Fernando Rizzolo


Advogado, jornalista, professor universitário e membro efetivo da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP

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