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Acima de tudo, o interesse nacional

A medida do governo, aumentando o IPI dos carros importados, teve apoio das Centrais Sindicais. As Centrais adotaram tal postura por entender: 1) É preciso proteger a produção nacional; 2) É preciso aumentar o índice de nacionalização da indústria aqui estabelecida (no caso, 65% de nacionalização dos itens); 3) É necessário defender os empregos.


Mas o movimento sindical, por ser autônomo frente a governos, soube fazer a crítica correta. E a crítica correta foi apontar que não se ofereceram contrapartidas aos trabalhadores. Como, por exemplo, garantia de emprego. E eu digo mais: no pacote, não se exigiu das montadoras sequer uma política de qualificação profissional ou de preservação do meio ambiente.


As medidas contra o abuso das importações são importantes, mas não bastam. Governo nenhum pode ficar refém de um setor econômico. E, com relação às montadoras, é preciso cuidado, porque elas têm grande poder de pressão e estão sempre buscando privilégios.



Não custa lembrar que tais empresas só se instalam aqui à base de grandes vantagens, como terreno grátis, melhorias urbanas no entorno e principalmente isenção de impostos. Sem contar o apoio em dinheiro por parte do BNDES.


Outro aspecto que merece ser destacado é a remessa de lucros. Como têm origem em outros países, as montadoras instaladas no Brasil fazem impressionante remessa de lucro a suas matrizes. Será que não caberia impor um limite às remessas? Penso que, ao baixar o pacote do IPI, o governo perdeu oportunidade de cobrar a garantia de investimentos efetivos no Brasil pelas montadoras que operam no País.


Entendo que se precise adotar medidas conjunturais, de olho no cenário mundial e principalmente para evitar que a crise nos afete. Nesse sentido, o pacote de aumento do IPI nos importados e exigência de maior nacionalização dos insumos é relevante.


Numa conjuntura dessas, o mais importante é agir em defesa do interesse nacional. Proteger a produção nacional é estratégico. Mas não menos estratégico é ter uma política industrial efetiva, que proteja os pequenos, apoie as empresas brasileiras e possibilite ao Brasil fortalecer e expandir nosso parque industrial.


O governo deve olhar também para a indústria calçadista, têxtil, do vestuário, as metalúrgicas de pequeno porte – que dependem das montadoras, além de outras que sofrem com a desvalorização do dólar e a importação desenfreada, principalmente da China.


 


José Pereira dos Santos


Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região


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