A indignação não é só dos ortopedistas, que se revoltam contra nossa legislação leniente. Infelizmente, o problema do aumento da violência e da impunidade não se restringe ao trânsito. Recente pesquisa da CNI/IBOPE mostrou que 51% dos brasileiros defendem a prisão perpétua, enquanto 4 em cada 5 dizem evitam sair á noite devido à violência, e 83% defendem penas mais severas para os criminosos.Sou médico e não legislador, mas como cidadão vejo com crescente apreensão a dicotomia entre o que deseja a sociedade e o que fazem as autoridades. A sociedade deixou claro que não quer que criminosos se tornem parlamentares, mas a Justiça esvaziou o “Ficha Limpa”, num claro aviso de que a moral e a ética deste grupo é diferente daquela que os cidadãos comuns são obrigados a cumprir no dia-a-dia. A sociedade quer que criminosos contumazes e autores de crimes hediondos sejam presos, não para tentar uma recuperação impossível, como pregam os defensores dos “direitos humanos”, mas para que não tenham oportunidade de continuar a cometer os mesmos crimes hediondos.
Como cidadão eu temo pelo esvaziamento dos presídios através da libertação de apenados após o cumprimento de um terço da pena e do indulto de Natal; a prática já mostrou que fatalmente parte não voltará aos presídios e que parcela significativa aproveitará a liberdade para voltar a delinquir e a matar.A impunidade no Brasil é tão grande que em recente pesquisa elaborada pela SBOT, 31% dos jovens confessaram que dirigem “normalmente” depois de beber. Num debate sobre segurança nas estradas, recomendou-se placas figurativas ao invés de letreiros, pois sabidamente “50% dos motoristas de caminhão não sabem ler”; como a fiscalização é falha e a obtenção de carteira de motorista é facilitada, continuam dirigindo. E provocando acidentes.Essa impunidade generalizada, contra a qual os ortopedistas e a sociedade se revoltam cada vez mais, talvez deixasse de existir se o legislador acompanhasse o cotidiano nas emergências e centros cirúrgicos, vendo o momento da confirmação da morte cerebral do acidentado. Ou presenciasse o momento que a equipe de resgate pára de fazer a massagem cardíaca, que se tornou inútil, enquanto o BO registra apenas que o atropelador recusou o teste do bafômetro, pois a legislação determina que “ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo”. O bom-senso existe. Empregá-lo é um dever do legislador.
Osvandre Lech
Presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia – SBOT