Era uma vez um sujeito que não tinha qualquer escrúpulo. Mas posava de bacana. Andava de carro importado pela cidade, usava relógio Rolex que adorava deixar aparecendo do lado de fora da janela do possante. Até um chapeuzão estilo vaqueiro (que vaqueiro de verdade não usa) ele gostava de botar sobre o cabeção. Dizia que era um estilo pessoal.
Com fala mole e jeito arrogante, tinha uma capacidade incrível de enganar as pessoas. Adorava prometer mundos e fundos. Cumprir era um capítulo para discutir depois. Por cair nas graças de uns milionários sem causa, mas cheios de interesses na cidade grande, conseguiu se eleger vereador da cidade grande. Cheio de querer, passava a maior conversa fiada em gente simples, mas cheia de esperanças.
E assim foi construindo uma carreira política marcada por um dos maiores defeitos que um político pode ter: o de não ter palavra. Aliás, já era bastante conhecido por não cumprir nada do que prometia. Credores atrás dele se espalhavam pelos quatro cantos. Mas para alimentar o luxo de araque, precisava arrecadar. O salarião de vereador não lhe bastava. A mesada que seus funcionários eram obrigados a devolver todo santo mês parecia trocado em suas mãos.
Foi aí então que o meninão de chapéu, encontrou um outro jeito de ganhar dinheiro fácil. Foi na cidade vizinha e contratou uma agência de correios de fachada, que emitia notas e mais notas para seu mandato pagar de selos que deveriam ser usados em cartas enviadas a seus eleitores. Dizia que estava prestando contas de seu mandato. Só que de cada dez correspondências faturadas contra o povo, apenas uma chegava a seu destino. O dinheiro das outras nove ia para o bolso do moço. O negócio parecia tão promissor que ele terceirizava a falcatrua a seus pares.
Mas, como nem tudo que reluz é ouro, um dia a casa caiu. Quando ele viu que sua vaca estava indo para o brejo, não demorou nada para mudar da água para o vinho. Velhas convicções – se é que algum dia ele teve alguma – desabaram. Correu para o colo daqueles que sempre bateu. Coisa de moleque…
Mesmo assim, não perdeu a pose. Seguia por aí, fazendo e acontecendo, sem nunca perder a velha mania de enganar, principalmente, quem ainda não conhecia esse seu “pequeno” defeitinho. Mas o mundo dá voltas. Tantas que de pouco adianta posar de macho, escondido atrás da tribuna de uma casa de leis…
Como ele gosta de usar frases prontas, o tempo é o senhor da razão. E não tardará para que todos saibam quem é vagabundo ou safado. Ah, talvez ele possa aproveitar o velho chapéu numa praça pública em busca de algumas moedas. Afinal, ganhar dinheiro fácil é sua maior especialidade.
Ernesto Zanon
Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo
No Twitter: @ZanonJr