Estatísticas criminais têm sido utilizadas há muitos anos para avaliar a eficiência de nossas polícias. Na década de 90, quando tivemos índices altíssimos no estado de São Paulo, as autoridades enfrentavam a contradição de estimular a participação da comunidade nas discussões da segurança pública e a dificuldade dea ser transparente e permitir a divulgação da quantidade real de ocorrências em cada região.
Em reuniões dos CONSEGs (Conselhos Comunitários de Segurança), os comandantes e delegados se recusavam a divulgar e comentar os índices especialmente quando a comunidade, por meio da imprensa, percebia a elevação da quantidade de ocorrências. Hoje os índices são públicos e disponíveis no site da Secretaria de Segurança Pública, garantindo o acompanhamento permanente da comunidade.
A segurança pública é o resultado de várias políticas integradas nem sempre vinculadas a ação das polícias. Por envolver fatores de grande complexidade social e urbana, é necessário manter sempre os canais de comunicação abertos para que a população se manifeste sobre os problemas de forma rápida e diretamente para as autoridades.
Um destes canais é o Boletim de Ocorrência (BO) elaborado nas delegacias para registrar crimes e ocorrências policiais, perda de documentos, acidentes, entre tantos importantes registros. É a partir deles que se forma o banco de dados com os índices estatísticos de ocorrências, determinando se a criminalidade está aumentando ou diminuindo em um bairro, cidade ou região.
Boletins de Ocorrência bem elaborados, ricos em detalhes, com a descrição dos suspeitos e fatos, permitem uma boa investigação policial que é fundamental para se chegar aos criminosos. Infelizmente a falta de estrutura das delegacias somada ao excesso de trabalho está levando a registros incompletos e até mesmo a não realização do BO! O fato perverso é que quanto menos BOs registrados, menos ocorrências entram nas estatísticas, resultando na falsa conclusão de que a segurança melhorou naquela região! Por outro lado se a delegacia atende bem e a todos, a quantidade de registros aumenta e se tem a falsa impressão de que a criminalidade está aumentando!
O cidadão, ao procurar a autoridade policial, não pode aceitar ou ser convencido a deixar de registrar o BO de imediato. Se isso acontece, deve procurar a unidade superior para registrar o BO do BO não registrado, de modo a exigir que o estado se organize e atenda todos prontamente com presteza, atenção e dedicação. Afinal, os impostos que pagamos são mais que suficientes para isso!
Wilson Lourenço
Vice-Presidente da RA-3 da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp)