Há muitos meios de se enfrentar o problema das drogas. E também há muitas formas de cuidar dos dependentes químicos. Talvez a pior delas seja por meio da repressão policial pura e simples. Se a droga é um problema social, a solução, naturalmente, tem de se enquadrar dentro uma visão também social.
Portanto, é errado querer erradicar a cracolândia, no Centro de São Paulo, utilizando-se tão somente da pressão e repressão policial. A polícia chega reprime, espanta, esparrama, mas não resolve. Logo, os dependentes se agrupam em outro ponto e o sistema de abastecimento da droga acaba restabelecido.
Aliás, a Folha de S. Paulo desta terça (10) traz uma sequência de fotos na primeira página mostrando exatamente essa cena: um grupo de dependentes sendo abastecido por uma traficante. Ou seja, a ação policial teve pouca eficácia na tentativa de desmantelar o sistema de abastecimento.
Longe de mim achar que o problema da droga tem solução simples. Ao contrário: problemas complicados requerem soluções complexas. E combinadas. Países avançados como a Holanda, por exemplo, não abrem mão da ação da polícia. Mas sempre dentro de uma política mais ampla, com ações que se complementam.
É isso que está faltando no Brasil: uma política efetiva, que movimente vários meios, que integre as esferas de governo e busque soluções de médio prazo, desvinculadas do calendário e do oportunismo eleitoral.
Proposta – Há tempos venho defendendo a construção de centros de recuperação de dependentes químicos, principalmente nas grandes cidades. E defendo não soluções isoladas e sim uma política de Estado, ou seja, planejada, com metas e devidamente equipada para dar conta da dura tarefa.
Defendo, também, que a sociedade olhe de forma mais piedosa para o dependente. O usuário de crack geralmente é uma pessoa sem recursos, está com a saúde prejudicada e não tem mais capacidade de discernimento. É preciso um paciente e insistente trabalho de recuperação, restabelecendo seus laços com a família e a sociedade.
Crianças – A legião de adultos drogados, que se amontoam nas ruas e praças de nossas cidades, é resultado do abandono à infância. Se nossas crianças tivessem sido mais bem tratadas, não teríamos hoje essa imensidão de dependentes químicos.
Quanto aos traficantes, não tem meia medida: é repressão dura, sistemática, incansável. Aí, sim, a ação da polícia tem eficácia e pode, concretamente, ajudar no combate a essa chaga social.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região