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O MARKETING E A MAIORIDADE PENAL

Confira artigo de Jacques Miranda, profissional de Comunicação e Marketing, empresário, escritor e Mestre em Semiótica, Tecnologias da Informação e Educação

 Provavelmente, ao ler este título, muito leitor atento deve se perguntar automaticamente quem teria a petulância de escrever acerca de algum tipo de exploração de imagem por trás desta celeuma que se intitula Maioridade Penal.  Pode continuar a ler, porque não será este o caso.


Começo rememorando alguns conceitos basilares de Marketing, forjados desde a década de 60 quando Mccarthy (Basic Marketing) defendeu a tese que derrubaria de vez a figura do vendedor como peça única numa transação e colocaria um elemento estratégico no sentido de planejar todas as variáveis que envolvem a transferência de titularidade do produto ou serviço, estabelecendo  o clássico Marketing Mix, os famosos quatro P’s (Produto, Preço, Praça e Promoção).  Nascia, pois, o profissional de Marketing (codinominado de Marketeiro, Mercadólogo e afins), corroborando com o conceito de papas como Kotler, Porter, etc. para quem o Marketing atua diretamente no estímulo do desejo. Ou seja, se você não conhece, não quer, não precisa, pode – num determinado dia – acordar conhecendo, querendo, precisando e, enfim, comprando.


É o mesmo que dizer que você pode viver sem uma camisa ou um tênis de boa marca, mas “alguém” te diz que comprando o tênis de boa marca ou a camisa idem, você será mais bem aceito socialmente, e assim desejado, reconhecido, etc.


É grosseiro dizer isso, mas é bem assim que acontece. Exemplos clássicos são os produtos da Apple: bons, caros, mas traduzem bem essa coisa de desejo. O Ipad, o primeiro tablet: não tinha muito espaço para armazenagem, não tirava foto, não fazia ligação, não gravava em pendrive (a não ser na memória interna) e não dava pra imprimir. Com tudo isso, sucesso de vendas! Quem racionalmente justifica?


Se nós, com nossa psique formada, nossa personalidade, nossa responsabilidade e a força familiar nos controlam o consumo e, mesmo assim, a estatística comprova que 18% dos usuários de cartão de crédito fazem parte da ciranda do “valor mínimo” e muitos de nós compramos compulsivamente, quem dirá, portanto, das crianças? O bombardeio começa pelo vidro traseiro do ônibus, no jornal do farol, nos “flyers”, na TV, na internet, no rádio, no pacote de biscoito, no ponto de ônibus, etc.


Pois é, é delas e sobre elas que passo a falar, pois essas crianças que, antigamente, tinham uma estrutura familiar bem diferente, nós, eu você, trabalhávamos com 13, 14 anos sem restrição. Cuidávamos do nosso dinheiro ou ajudávamos no orçamento doméstico. Muitas mães não precisavam sair para trabalhar e ficavam cuidando de casa. Realmente, muitas crianças da minha idade tinham a mãe em casa para tomar conta. Quando saiam para as ruas, era aquela coisa de peão, bolinha de gude e taco. Tinha pipa, futebol, mas não tinham tantas mídias a influenciar na compra de produto ou serviço.  Lembro-me que pouca coisa era desejada pela criança – coisas bobas e simples como um skate, patins; uma bola e boneca.


A tecnologia não impulsionava o consumo como é o hoje. Hoje se compra o que a criança quer de presente, baseada nas informações que ela recebe grosseira ou sutilmente dos meios de comunicação oficiais (rádio, TV, Internet, Jornal). Relógio de “fulano”, boneca de “beltrano”. Enquanto a necessidade é impulsionada de maneira oficial, menos mal. Mas, e quando a necessidade é a de comprar um boné de marca, um tênis, uma calça, um super celular e, aquela criança que de uns tempos para cá “proibidas” de trabalhar – diferente de mim que tive de experimentar meu primeiro emprego com 14 anos –, sem nenhuma condição financeira, cuja mãe e o pai saem para trabalhar, como ele imagina comprar aquele produto? Como ver-se livre daquela vontade incontrolada e devidamente impulsionada pelo Marketing; por nós, profissionais de comunicação?


Em outras palavras, a criança de hoje sabe exatamente o que quer, mas não tem a menor ideia de onde vai tirar o dinheiro para comprar. Conclusão…


Dizem que somos responsáveis por aquilo que fazemos, na mesma proporção daquilo que omitimos. Desta forma, o marketing não pode fazer muito em termos de ação do que é o seu trabalho diário, mas podemos repensar essa coisa de participar da discussão.


A verdade é que, num mundo dinâmico como nosso, as coisas mudam muito rápido e algo há de ser feito. A comunicação de hoje é diferente da de ontem e não se pode tomar decisões no presente com o cérebro do passado.


Clamo pela discussão profunda a respeito deste tema, afinal, o papel do marketing é estimular o desejo e com isso, acredito que você, lá no fundo, também quer mudança. Não é mesmo?


 


Jacques Miranda é profissional de Comunicação e Marketing, empresário, escritor e Mestre em Semiótica, Tecnologias da Informação e Educação. Mantém um blog em www.jacquesmiranda.com.br 

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