Olha para um lado, para outro. Aí vai atravessar e uóóóim, o trem tira uma fina. Estamos assim, paralisados, sem saber para onde ir, quem apoiar, o que apoiar, nem mesmo se é para apoiar alguma coisa. Em São Paulo o problema é pior: travou. Fisicamente, na prática a cidade já está inviável
Quer saber o que o prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, anda fazendo? Bem, além de anunciar meio chorando desanúncios de tudo o que prometeu sorrindo em campanha, toma medidas para atrapalhar ainda mais, e com explicações que beiram o stand-up. Uma delas umas tais faixas exclusivas para ônibus. Ideia louvável, não? Claro, mas se existisse lugar onde colocá-las, não feitas "porque sim". Lembram a máxima de que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço? Pois bem: foram lá com umas latas de tinta e pintaram as faixas, tá? Aqui tem de passar o ônibus. Parece aqueles programas de comédia, mudos, que os caras vêm, pintam uma porta, abrem e entram. O cartunista Juarez era um craque nisso, todo domingo, no velho Fantástico.
Saturação total. Mandaram todo mundo comprar carro, e nada de planejar o sistema de transporte coletivo e circulação; embaralharam tudo de vez. Todos os dias dá nó, entre 150 a 200 kms de lentidão na São Paulo que não pode parar. Parado. Não tem para onde escapar – conheço muitos atalhos, e não tem jeito. A gente fica preso. Ou melhor, encurralado. E os motoqueiros malucos, as ambulâncias, arrastão, resgate, os carros de polícia (além dos engraçadinhos que passam atrás), mais uma ou duas manifestações, nossa nova média diária, todo tipo de obstáculos urbanos, forçam a passagem e pronto! A tal Lei da Física, dos dois corpos…, revogada. Peguei duas roubadas dessa essa semana. No rádio só a infeliz Voz do Brasil, e me apavoro observando o entorno: cidade escura, suja, placas tortas, sujas, cidade feia, descaso de coisas quebradas.
Mas peraí que esse texto não é contra o moço meio sonso, que fica aguardando ordens de cima e que ainda não tomou posse, esperando o tal Arco prometido, e que não é íris! É sobre nossa situação geral. Sobre o momento político, protestos, a economia em derrocada, sobre a paralisia. Não dá para, sei lá, pensar nem dois dias à frente, menos ainda programar investimentos – e, por conseguinte, qualquer ideia de consumo e/ou alegria. O entusiasmo dos protestos – teve gente que brigou comigo porque "como é que eu não via as maravilhosas medidas dos congressistas, da Dona Dilma"? – sendo trocado por decepção na medida em que a pessoa se informe direito. Tudo como dantes no quartel de Abrantes.
Mal acostumado com a boa moda inicial, qualquer protesto que tenha só 50, 100 pessoas é completamente desprestigiado. A não ser que os meninos maus, vestidos de pretinho básico, à frente, quebrem tudo ou ameacem – para virar notícia. Eles entenderam isso muito bem e mandam ver.
A verdade – lá vou eu!- é que não vejo mais nenhuma liberdade muito grande nas manifestações. Elas, agora – repara – têm muito mais polícia do que manifestantes. São tantos os policiais com cara de bravo que sufocam as passeatas, emparelhando dos dois lados das caminhadas e à frente, e atrás. Por cima. Não dá mais nem para ler as faixas. Ah, parece que ainda tem de avisar com antecedência para que o trânsito seja desviado.
Enfim, não é mais protesto – é evento festivo na rua; a espontaneidade, que foi a parte melhor do levante, já era. Tudo bem que sou, claro, contra quebra-quebra, mas não venham me dizer que o que estamos presenciando é liberdade de reunião, especialmente me referindo a São Paulo. Não é só o povo do mal que está cercado, mas todos os manifestantes. E daí para murchar tudo é um passo só.
Pior ainda é que já nem sabemos mais o que pedimos. Nem porque pedimos. A qual comparecer, qual engrossar. Os meninos, novidade, têm combinado cada vez mais esses encontros para a noite, muitos varando a madrugada. Virou um programa legal, barato, animado, e ainda dá para zoar as "minas". Fora que tem segurança e a possibilidade de um "barato" com gás de pimenta gratuitamente distribuído.
Em junho quando pensava no cartaz que levaria, fui fazê-lo e não coube no papel. Era contra tanta coisa que protestávamos que viramos todos momentaneamente anarquistas. Fora isso, Fora aquilo!
Mas, olha que péssimo: estou vendo a hora que vai aparecer uma manifestação, marcha, concentração ou assemelhado para pedir é que parem as manifestações. Tudo acontecendo porque um grupo político está pisando no calo do outro, para ver estrelas e pulos dos gatos dos balaios. Pisando nas asas, para que fechem o bico curvo e colorido. Agora o silêncio cairia bem para eles.
Encurralados, estamos. E encalacrados.
São Paulo, 2013
Marli Gonçalves é jornalista – Sete de Setembro se aproximando e uma grande dúvida aonde isso vai dar. Se vai dar. Ou se vai só bater no muro de uma rua sem saída.