Você deve ter lido ou escutado que o jornalista e narrador Rafael Henzel morreu na noite desta terça-feira, 26/03. Não é verdade.
Ele continuará sempre vivo, mesmo que seu coração tenha parado, ironicamente, numa pelada com os amigos. Ironicamente porque o futebol, por muitas vezes, acelerou seu coração. Assim como a emoção de sua narração também fez muitos corações baterem mais fortes.
Mas como eu estava dizendo, ele não morreu. Mesmo que sua voz não seja mais escutada em Chapecó, no oeste catarinense. Não, ele não morreu.
Porque no dia 29 de novembro de 2016, nem uma queda de avião, na qual 71 pessoas morreram, foi capaz de matar Rafael Henzel. E a partir daquela data, ele se transformou num exemplo de fé e perseverança, algo que para sempre será lembrado.
Eu o vi uma vez. Foi no Pacaembu, logo depois de um São Paulo x Chapecoense, em jogo válido pelo Brasileirão de 2017. Abaixo eu conto como foi este encontro. O texto foi publicado em minhas redes sociais no dia 10 de novembro de 2017, uma sexta-feira. Vocês entenderão por que um cara como Henzel jamais morrerá:
“Ontem acordei duas vezes. A primeira, pela manhã, às 7h30. A segunda, à tarde, após um rápido cochilo depois do almoço.
Os dois ‘despertares’ tiveram algo em comum. A voz inconfundível de Deva Pascovicci. Há alguns meses, o alarme do meu celular é a narração dele no segundo gol do Corinthians, feito por Sheik, na final da Libertadores de 2012. ‘Cara a cara, cara a cara, cara a cara… Um gol histórico’. Sem me dar conta que iria ao terceiro jogo da Chapecoense no ano (dois aqui em SP e um em Chapecó), acordei, nas duas vezes, pensando: ‘Que falta você faz, Deva. Você era muito monstro na narração’. Para quem não sabe, ele morreu no acidente do clube catarinense.
Fui para o Pacaembu (local onde Sheik marcou e Deva narrou o gol histórico, há 5 anos). Vi o jogo São Paulo x Chapecoense. Fiz algumas entrevistas e comecei a procurar um táxi para ir ao metrô.
Eis que olho para o lado e vejo Rafael Henzel. Jornalista, como eu. Narrador, como o Deva. E, acima de tudo, um milagre vivo. Um dos sobreviventes daquela trágica madrugada do dia 29/11/2016. O dia que não acabou.
Quando fui pra Chapecó, seis meses depois do acidente, em maio, ouvi um trecho do programa de rádio do Henzel. Mas vê-lo, ali, ao meu lado, mexeu comigo. Tive uma sensação diferente. Inédita.
Era como se estivesse ao lado de uma entidade. Do inacreditável. Uma das pessoas que nos provam que nada é impossível. Inclusive, sobreviver a uma queda de avião naquelas circunstâncias. "Obrigado por ser esta inspiração, Henzel", disse a ele. "A vida tem que seguir, garotinho", respondeu-me.
Aquele 29/11/16, de certo modo, mudou minha vida. Fiquei mais abalado do que no dia em que meu pai morreu – lembrando que seu Adão já estava muito debilitado quando partiu desta para uma melhor.
E, poder rir ao lado de Henzel, provocou-me uma reflexão: "Sorria sempre, parceiro. Porque a vida é um trem bala, sempre prestes a partir". Boa sexta a todos!"
Vinícius Bacelar é jornalista e repórter do GuarulhosWeb