Variedades

Joias do terceiro comodato do Masp

Não é a primeira coleção de arte transferida em regime de comodato ao Masp desde que Heitor Martins assumiu a presidência do museu, em 2014, mas certamente a da B3 (empresa que teve origem na BM&FBovespa), que cedeu 66 obras à instituição, é de fundamental importância para preencher lacunas em seu acervo. Outras duas coleções cedidas anteriormente em comodato ao Masp são igualmente importantes: as 275 fotografias do histórico Foto Cine Clube Bandeirante (em 2014) e a coleção do casal Edith e Oscar Landmann, cedida há dois anos, com cerca de 900 peças de arte pré-colombiana.

Parte da coleção da B3, exposta a partir do dia 14 na mostra Acervo em Transformação, traz obras do século 19, do modernismo brasileiro e contemporâneas selecionadas com critério e compradas antes que as antigas BM&F e Bovespa abrissem capital, em 2007. Seus conselheiros e diretores conviveram com esse acervo por tantos anos e foram tantas as mudanças que fica difícil dizer com exatidão a data de entrada dessas obras no acervo da instituição, cuja história começa em 1890. Assim, a coleção tem desde obras do século 19 – aquarelas do inglês Edmund Fink (1790-1833) e pinturas de Benedito Calixto (1853-1927) – até contemporâneas, passando por ícones do modernismo brasileiro.

Elas foram raramente exibidas em público. Há nove anos, parte desse valioso acervo foi mostrada numa exposição do Espaço Cultural BM&FBovespa, no centro, que tinha como tema a transformação da cidade de São Paulo. As aquarelas de Pink mostravam a província na época da Independência. As telas de Rebolo e Volpi retratavam a transição dessa província agrária para a metrópole industrial, do mundo camponês para o operário.

Algumas das 25 obras expostas na mostra do Masp estiveram nessa exposição da BM&F, como a vista do Porto de Santos pintada por Benedito Calixto em 1890, reproduzida nesta página. Outras são inéditas aos olhos do grande público. Artistas como Lygia Clark (1920-1988), disputada por colecionadores de todo o mundo após sua retrospectiva no MoMA, em 2014, não tinha uma só obra no acervo do Masp, que agora pode exibir um “caranguejo, peça de sua série de “bichos em alumínio.

Outro exemplo é a artista carioca Ione Saldanha (1919-2001), que, nos anos 1960, trocou a superfície bidimensional por pinturas sobre ripas e bambus, sendo premiada na Bienal de São Paulo de 1967 com a aquisição de uma obra.

Entre tantas obras de importância histórica e cultural fica difícil selecionar os highlights da exposição do Masp, mas certamente duas pinturas se destacam: o óleo Interior de Mônaco (1925), da modernista Anita Malfatti, e o retrato Figura de Menino com Camisa Branca Listrada (1961) de Guignard. No primeiro caso, temos uma vigorosa pintura de Anita, feita durante sua passagem por Mônaco em companhia da irmã Georgina (que serve de modelo para a artista). A tela, uma composição matissiana com ecos de Bonnard, é uma das melhores de Anita, em pleno vigor moderno, antes de se voltar, nos anos 1950, para uma pintura de matriz popular – há um exemplo dessa época na mostra, o óleo Batizado na Roça.

O retrato de Guignard com a figura do menino foi pintado quando o pintor já estava bastante avançado na série de suas paisagens imaginárias (anos 1960), mais inventadas do que baseadas no modelo real – o que fica claro na paisagem carioca atrás do garoto.

Do mesmo ano (1961) do retrato pintado por Guignard é a tela Confronto, de Bonadei, composição fortemente marcada pelo rigor da simplificação e geometrização cubista da paisagem por Cézanne. Há também De Fiori, Di Cavalcanti e Portinari para ver. E muito mais.

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