E se nós pudéssemos sair do nosso próprio corpo e viver por intermédio de um robô? O que parece uma ideia para filme de ficção científica é, na verdade, uma realidade, que pode ser explorada no Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, o File, de 2018, que será aberto ao público paulista nesta quarta-feira, 4, no Centro Cultural Fiesp. Em seu 19º ano, o evento, que mistura arte e tecnologia, tem como título O Corpo É a Mensagem, numa referência à convivência simultânea entre os corpos físicos e os cibernéticos.
“Chamamos essa fusão de realidade mixada”, escrevem os fundadores do File, Ricardo Barreto e Paula Perissinotto, no texto curatorial. Para eles, a nova realidade propõe novas formas de se fazer arte. Na exposição, mais de 240 trabalhos de artistas de 38 países foram selecionados. Os principais são 18 instalações, boa parte com realidade virtual.
“Temos este ano a validação dessa nova plataforma, que é a realidade virtual”, explica Paula ao jornal O Estado de S. Paulo. “Três anos atrás, as pessoas ainda estavam começando a tatear, em termos de estética.” Para esta edição, as atrações com realidade virtual são de fato o grande chamariz. A que pode chamar mais atenção, e gerar mais filas, é Unlimited Corridor, desenvolvida no Japão, em que os visitantes, com óculos especiais, vão poder caminhar num grande espaço físico circular, que virtualmente é um grande corredor reto.
Outro destaque, que personifica a ideia de realidade mixada, é a obra Outrospectre, dos artistas holandeses Frank Kolkman e Juuke Schoorl, em que os visitantes, com a ajuda de um óculos, experimentam uma sensação de sair do próprio corpo. Passa a enxergar e ouvir por meio de um robô que está em suas costas e que se afasta, cada vez mais. Uma estrutura dá toques leves nos corpos físicos dos visitantes, para que não “esqueçam” de onde realmente estão. “Isso pode ser uma coisa comum no futuro”, acredita Paula.
As obras do File 2018 também misturam arte com tecnologias usadas na medicina. Em SyncDon II e em You Are The Ocean, os batimentos cardíacos e as ondas cerebrais, respectivamente, são os motores das instalações. Na primeira, estímulos auditivos, táteis e visuais ajudam a sincronizar os batimentos cardíacos dos visitantes. Já na segunda, as ondas do cérebro se tornam, em vídeo, ondas do mar, que podem ser mais calmas ou mais intensas, a depender dos pensamentos do espectador, que utiliza um sensor.
No meio de tantas atrações virtuais, a artista brasileira Ludmila Rodrigues propõe com Polytope uma experimentação do espaço físico. Uma estrutura maleável pode ser movida pelos visitantes numa grande sala branca. “É um trabalho que dá para fazer uma relação direta com o de Lygia Clark, com tetraedros que as pessoas podem manipular”, analisa Ricardo.
Com suas instalações bastante atrativas ao grande público, a File é conhecida também por suas enormes filas. Este ano, com mais instalações de experimentações individuais, é provável que o tempo de espera dos visitantes seja ainda maior. “Tivemos que pensar a cenografia de acordo com obras que acreditamos que possam gerar filas”, revela Paula. Como opção, uma das atrações que podem ser vistas em grupo é a alemã Vicious Circle, do artista Peter William Holden, que promove uma espécie de teatro de robôs.
FILE SÃO PAULO 2018
Centro Cultural Fiesp. Av.
Paulista, 1.313. Tel. 3146-7000.
3ª a sáb., 10 às 22h. Dom., 10 às 20h. Gratuito. Até 12/8.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.