Ao ouvir um elogio sobre a fotografia de Rita Lee segurando um gatinho, de 1976, Bob Wolfenson brinca. “Essa foi uma das primeiras fotos que fiz da Rita, eu era melhor nessa época.” Ao todo, já se vão quase 50 anos de carreira do fotógrafo paulista e a comemoração vem com uma grande exposição retrospectiva de parte da sua obra, Retratos, que já está em cartaz no Espaço Cultural Porto Seguro, em São Paulo.
A mostra conta com mais de 200 imagens, algumas inéditas. O mais antigo registro é do dramaturgo Zé Celso, feito em 1973, um ano antes de seu exílio em Portugal. Os mais novos são de 2018, como fotos de Fernanda Young e do fotógrafo Sebastião Salgado. “Fiz questão de trazer fotos mais novas, para não jogarem uma pá de cal em cima de mim”, diz o artista, de 64 anos com muito bom humor, numa visita acompanhada pela reportagem à exposição. “Estou mais vivo que quando fiz todas as fotos mais antigas.”
Outra foto bem recente é do candidato à Presidência da República Guilherme Boulos, do PSOL, acompanhado de sua vice, Sônia Guajajara. Já na entrada da mostra, o público se deparar com uma parede repleta de fotos de políticos, como de Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo em 1979, e dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. “As fotos foram para campanhas oficiais e encomendas de jornais, que ele fez sem fim específico”, comenta o curador, Rodrigo Villela, ao ser questionado se houve um cuidado especial nessa parte da montagem, dado o clima de sensibilidade no País quanto às questões políticas. “Obviamente, tenho meus posicionamentos, mas o que faço é uma crônica”, explica Bob.
Na parede em frente, um outro lado não tão conhecido de Wolfenson, seus momentos de paparazzo. São registros de rua de grandes nomes como Charles Chaplin, Sophia Loren e Yoko Ono. “Abrir a exposição com esses dois núcleos menos reconhecidos foi uma opção, mostra uma parte também importante do trabalho”, diz o curador. As fotos nesse primeiro andar são de menor escala e Bob brinca mais uma vez. “Eu gosto mais de fotos grandes, tenho esse narcisismo.”
Por esse ângulo, pode-se dizer que os demais andares da exposição agradam bastante ao fotógrafo. São grandes fotos com alguns de seus retratos mais famosos, como de Caetano Veloso, Fernanda Montenegro e Sonia Braga. “Não tenho a capacidade de traduzir a alma de ninguém, mas o instante desse meu encontro com os fotografados fica eternizado pela força desses momentos”, analisa.
Segundo o fotógrafo, o critério de escolha das imagens foi variado. “Algumas foram por questões estéticas e outras por serem pessoas importantes para mim”, explica. “Uma pessoa com expressão forte como a Laerte ou algo raro, como o Chico Buarque sem camisa. Fotografo pessoas que são muito fotografadas, tento trazer alguma originalidade.” Ao todo, segundo o curador da mostra, o processo de seleção das imagens passou por cerca de 1.500 fotos.
Alguns dos registros eternizam ainda grandes personalidades que já se foram, como Luiz Melodia e Caio Fernando Abreu. “Os trabalhos não foram concebidos como fotorreportagem, mas agora é como um documento jornalístico, crônica de uma época.”
Num momento em que São Paulo recebe uma mostra sobre o fotógrafo Irving Penn, um dos grandes ídolos de Bob, junto com Richard Avedon, o brasileiro reflete sobre suas influências ao ver seus trabalhos colocados lado a lado. “Reconheço onde eles me influenciaram e as minhas particularidades.” Bob afirma que, no futuro, quer fazer uma exposição ainda maior. “Retratos são só 30% do meu trabalho.”
BOB WOLFENSON: RETRATOS
Espaço Cultural Porto Seguro. Al. Barão de Piracicaba, 610. Tel. 3226-7361. 3ª a sáb., 10 às 19h. Dom. até 17h. Gratuito. Até 9/12.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.