Tem gente que até hoje não consegue entender como Gloria Swanson não venceu o Oscar de melhor atriz de 1950, por sua performance como Norma Desmond em Crepúsculo dos Deuses. O motivo, na verdade, é até simples – havia, naquele ano, duas interpretações tão grandes, a de Gloria e a de Bette Davis, como Margo Channing, em A Malvada/All about Eve, que tomar partido seria sacrilégio. Como premiar uma sem ofender a outra? A Academia saiu pela tangente, elegendo uma terceira. O mais incrível é que ninguém achou que Judy Holiday não merecesse o troféu por Nascida Ontem, a comédia de George Cukor.
Mas, claro, Crepúsculo dos Deuses e A Malvada são obras maiores. O clássico definitivo sobre os bastidores do cinema, por Billy Wilder, o primeiro, e o filme definitivo sobre teatro, por Joseph L. Mankiewicz, o segundo. O que você poderia duvidar é que um drama tão sombrio quanto Sunset Boulevard pudesse ser cantado e dançado no formato musical. Na verdade, não existe incompatibilidade alguma. É tudo uma questão de dramaturgia, partitura e elenco. Mise-en-scène, sem dúvida.
Culminação do cinema noir de Billy Wilder (e do roteirista Charles Brackett), Sunset Boulevard venceu justamente os Oscars de roteiro, cenografia e música. Os de filme, direção e roteiro adaptado, entre outros, foram para A Malvada. Norma Desmond, a grande estrela do cinema silencioso, planeja retorno triunfal à tela. Queixa-se de que os filmes ficaram menores e contrata escritor, que vira seu gigolô, para escrever a história. A trama tem aspectos escabrosos – um assassinato, e o mordomo da mansão é o ex-marido diretor da estrela. Como Norma, Gloria imita Carlitos e assiste a Queen Kelly, que Erich Von Stroheim, que faz o mordomo, dirigiu. A crueldade de Wilder. A cena final é clássica – o close. Cinéfilo de carteirinha vai conferir como fica como musical.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.