Buster Keaton tornou-se famoso no cinema mudo como o comediante que jamais sorria. O detalhe pode ter contribuído para sua popularidade, mas o fato é que Keaton foi um dos maiores artistas da sétima arte, equivalendo-se a outros gênios como Charlie Chaplin. Poucos, no cinema mudo, uniram com tanto talento a engenhosidade da técnica com a arte cômica. É o que poderá ser comprovado por qualquer cinéfilo a partir desta quinta-feira, 11, quando começa a importante mostra Buster Keaton – O Mundo É Um Circo, a maior retrospectiva do artista já realizada no Brasil.
São quase 70 filmes, entre longas, curtas e médias-metragens dos quais 16 obras serão exibidos em película (16 mm) no Centro Cultural Banco do Brasil, até 5 de novembro. Uma chance imperdível para se rever ou mesmo conhecer verdadeiras obras-primas do cinema mundial, como A General, longa de 1926. A trama se passa durante a Guerra Civil Americana (1861-1865) e é baseada em história real. Rejeitado pelo Exército confederado, que o considera mais útil como maquinista e mecânico, um jovem resolve vencer a guerra contando apenas com a ajuda da General, sua querida locomotiva. Assim, provará ao seu outro amor, uma bela moça, que não é um covarde. Como era habitual em seu trabalho, Keaton participou de todo o processo criativo, o que confere ao filme um notável realismo. Mas, o que interessa de fato é a comicidade e Keaton arranca inúmeras gargalhadas ao mostrar a épica luta solitária do rapaz em sua ambição.
A arte apurada de Keaton impressionava pelo detalhismo e pelos riscos que impunha a si mesmo, resultando em uma rara combinação de humor, aventura e inventividade. “Keaton é o maior gênio da assim chamada comédia física. Seu nível de invenção humorística com objetos e peripécias atléticas é sem igual em toda a história da arte cinematográfica. Famoso como O Homem Que Nunca Ri, ele desenvolveu uma persona cinematográfica só talvez comparável à de Chaplin com Carlitos”, afirma Ruy Gardnier, que divide a curadoria da mostra ao lado de Diogo Cavour.
De fato, Keaton era considerado por Orson Welles como o maior ator-diretor da história do cinema, título confirmado pelo American Film Institute que o considerava uma das maiores estrelas do cinema clássico de Hollywood – Welles chegou a dizer que A General era superior a …E o Vento Levou.
“Buster Keaton é fundamental não apenas na história da comédia, mas também na história do cinema no sentido mais amplo. Suas histórias são recheadas de ação, romances e acrobacias – que, aliás, era seu forte. As sequências de Buster sobrevivendo aos mais diversos tipos de obstáculo (tornados, cachoeiras, avalanches e quedas imensas) são de tirar o fôlego. Seu personagem, sempre de expressão impassível, representa um ato contínuo de otimismo frente às adversidades, gerando admiração e identificação em seus espectadores”, complementa Cavour.
Além de A General, será possível assistir a outros clássicos mudos como Sherlock Jr. (1924) e O Homem das Novidades (1928). Em todos, apesar da expressão impassível, Keaton revelava sua genialidade ao criar personagens otimistas, independentemente das adversidades, o que cria uma empatia imediata com o público.
Alguns filmes serão exibidos com acompanhamento de um piano, reproduzindo a experiência do cinema do início do século passado. Também haverá atividades extras, como o curso Buster Keaton: Humor Encarnado, a ser ministrado pelos professores Tainah Negreiros e Edson Costa Pereira Júnior, nos dias 17, 18 e 19 de outubro, além da aula magna Buster Class, a ser proferida pelo crítico e jornalista Inácio Araújo, no dia 26 de outubro. As inscrições devem ser feitas por meio do site www.mostrabusterkeaton.com.br.
BUSTER KEATON – O MUNDO É UM CIRCO
CCBB. R. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651. 4ª a dom., a partir de 14h15. R$ 10. Até 5/11
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.