Variedades

A mania de uma família chamada Titãs

O silêncio repentino dos jovens delatava o desconforto durante uma festa de aniversário. Segundos antes, eles se divertiam ouvindo a sensação dos anos 1980, o álbum Cabeça Dinossauro, até que um dos parentes tomou a liberdade e interrompeu a música Aa Uu, por não achá-la de bom tom.

Essas e outras memórias são compartilhadas no espetáculo Cabeça (Um Documentário Cênico) que estreia no Itaú Cultural neste sábado, 15, tendo em perspectiva o icônico álbum da banda Titãs, festejado em 2016 pelos 30 anos de lançamento. É a primeira vez que o espetáculo do coletivo Complexo Duplo passa por São Paulo, em apenas duas apresentações.

Composto por oito atores-músicos – como na formação original da banda paulista -, o espetáculo do grupo carioca parte das treze letras cruas e contestatórias do álbum para traçar um ambicioso olhar que permeia esse Brasil de três década, conta o autor e diretor Felipe Vidal. “O disco possui um caráter que atingiu toda aquela geração recém-saída da ditadura. A começar pelos nomes da canções, que debatiam de maneira muito direta temas, as instituições e os costumes do País. Seu potente viés político nos interessou pelas memórias.”

A instabilidade no fim de regime militar ainda se arrastava desde a morte de Tancredo Neves, que levou, em 1985, o então vice José Sarney ao poder. Um esboço de Da Vinci intitulado Expressão de Um Homem Urrando foi escolhido como capa do disco, um retrato do Brasil. “O álbum carrega uma energia de contestação, de crítica aberta tanto nas letras quanto na rebeldia proposta pelo rock”, afirma Vidal.

No palco, a montagem segue a ordem das músicas como no vinil e se divide em dois atos: Lado A (Cabeça Dinossauro, Aa Uu, Igreja, Polícia, Estado Violência, A Face do Destruidor, Porrada, Tô Cansado) e Lado B (Bichos Escrotos, Família, Homem Primata, Dívidas, O Quê). Ao invés de improvisar, o grupo buscou ser fiel ao arranjo original dos Titãs. “Além da letra, a musicalidade é responsável por despertar nossas memórias e já criar um laço afetivo com a plateia.”

Cabeça é a segunda empreitada da trilogia Paramusical, quando estreou, em 2015, o espetáculo Contra o Vento, inspirado na musicalidade exuberante e libertária da Tropicália e dividida em três atos: Sinal Fechado, Três da Madrugada e Panis et Circenses.

A partir de um universo musical tão rico e recente na memória nacional, Cabeça já fez cinco temporadas no Rio e viajou pelas principais capitais, como Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza e Belo Horizonte. O que é de se estranhar, por ainda não ter desembarcado em São Paulo, ao menos para uma temporada na terra dos Titãs (lembrando que são apenas duas apresentações no Itaú Cultural). “Em todas as viagens, percebemos que o trabalho se conecta com quem também viveu esse Brasil, de quem estava lá”, conta Vidal. “Muitas pessoas nos procuram para compartilhar histórias que se misturam às canções. De todo modo, o álbum funciona como um interlocutor de toda essa memória nacional e coletiva.”

CABEÇA
Itaú Cultural.
Av. Paulista, 149. Tel.: 2168-1776. Sáb., (15/12), 20h. Dom., (16/12), 19h. Grátis

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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