Variedades

Desfiles de Paris viram espetáculos apoteóticos

Uma pena que a semana de moda de Paris, encerrada na terça, 5, tenha sido ofuscada pelos bloquinhos de carnaval por aqui, porque muitos de seus desfiles, certamente, conquistaram lugar no panteão dos grandes momentos da moda contemporânea. A temporada trouxe Grace Jones, maravilhosa aos 70 anos, dançando no desfile de Tommy Hilfiger, contou com passarelas em sets cinematográficos instalados em pleno museu do Louvre e aos pés da Torre Eiffel e uma homenagem comovente ao kaiser, Karl Lagerfeld, morto em fevereiro.

O Grand Palais foi transformado em uma estação de esqui dos Alpes Suíços (lugar que o estilista amava), houve um minuto de silêncio antes do show e ouviu-se a voz de Karl falando em francês sobre sua chegada à marca nos anos 1980.

As expectativas para esse tributo eram altíssimas, afinal, o estilista virou um ícone da moda, ocupando a direção criativa da Chanel por 35 anos. Por outro lado, como fazer uma homenagem respeitosa a um alemão totalmente avesso a sentimentalismos?

A resposta veio na forma de uma coleção que representou a sua genialidade, com uma série da casacos e conjuntos de tweed em vários tipos de xadrez (um mais chique do que o outro), seguida por roupas de inverno bem coloridas que acenavam para o melhor do estilo anos 80, do qual Karl foi mestre. No final, uma linha de vestidos finos brancos e sublimes contou com a presença especial da atriz Penélope Cruz, que surgiu com uma camélia branca nas mãos, um símbolo da Chanel reinterpretado centenas de vezes por Karl. A música Heroes, de David Bowie, fechou o show com a tropa de modelos emocionada, algumas delas chorando.

A festa continuou com os americanos que desembarcaram na cidade luz. A Tommy Hilfiger, que roda o mundo criando verdadeiros espetáculos para suas coleções – tendo passado por Shanghai, Milão e Nova York – sacudiu o Thèâtre des Champs-Elysées trazendo ninguém menos que Grace Jones. A modelo, cantora e ícone dos anos 80 levou os 1.900 convidados ao delírio ao som do seu hit Pull Up To The Bumper.

A coleção seguia o tema: muito lurex, lamê e estampas coloridíssimas em um batalhão de modelos com tipos de corpos e etnias bem diversificados.

Já a Saint Laurent levou a tendência néon para outro nível quando apagou as luzes do seu cubo de vidro montado nos jardins do Trocadéro, em frente à Torre Eiffel. De repente, minivestidos fluorescentes cruzaram a passarela iluminada apenas com luz negra, dando o tom pop à revisitação de Anthony Vacarello, estilista atual da marca, à famosa coleção Scandal, de 1971, de Yves Saint Laurent.

Enquanto isso, a Louis Vuitton radicalizou numa onda punk interessantíssima. Para falar sobre os limites do real e do imaginário, o estilista Nicolas Ghesquière recriou a fachada do Centre Pompidou dentro do Louvre. Sua inspiração veio dos grupos culturais e alternativos que circulam na região do Pompidou. Assim, o estilo da madame encontrou a rebeldia do couro e das tachas.

Com a mesma pegada sombria e rebelde, a estilista Sara Burton trouxe ternos impecáveis ao desfile de Alexander McQueen, fabricados com lãs feitas no Norte da Inglaterra, onde ela foi criada. Sua moda evocou os festivais da região, as irmãs Brontë, que também vieram de lá, e as sufragistas com seus vestidos brancos. E linkou todos esses conceitos históricos com os códigos do punk e do new wave. Fez um lindo trabalho.

Esta foi uma ótima semana para a alfaiataria, por sinal. Enquanto o estilista Hedi Slimane resgatou a versão comportada da garota chique de Paris, combinando bermudas de couro com blazers e botas longas, Waight Keller, da Givenchy, investiu em ternos certinhos, usados com os botões fechados e cintos afivelados. A modelagem trouxe ombros empinados, confirmando uma tendência: as ombreiras estão entre nós.

O que mais vai pegar? A Balenciaga, queridinha do street style, deu show mais uma vez com sua alfaiataria tecnológica e de cores cítricas. O rosa-chiclete, o amarelo e o turquesa-ácido apareceram em doudounes, casacos teddy bear e terninhos com ombros marcados. O jeans lavado e destruído é uma das apostas da Balmain. O xadrez, sempre ele no inverno, aparece em versões de tabuleiro de damas e pied-de-poule, como na Off-White e na Chanel. São os padrões que vão dominar as ruas. Afinal, como diria Coco Chanel, “uma moda que não chega às ruas não pode ser chamada de moda”. (Colaborou Lays Tavares)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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