Variedades

Mostra no IMS exibe a versatilidade de Marc Ferrez

Graças ao seu refinado olhar de artista, o fotógrafo carioca Marc Ferrez (1843-1923) não fez apenas registros formais do Brasil (e do Rio, em particular) na virada do século 19 para o 20 – suas imagens, além de documentais, ressaltam o valor estético do assunto retratado. É o que poderá ser observado na exposição Marc Ferrez: Território e Imagem, que será aberta nesta terça-feira, 26, para convidados (e quarta para o público), no Instituto Moreira Salles de São Paulo.

Com curadoria de Sergio Burgi, a mostra reúne mais de 300 itens, entre fotografias, álbuns originais, câmeras, equipamentos e documentos. “Ele foi o primeiro fotógrafo a documentar extensivamente as diversas regiões do território brasileiro”, afirma Burgi. “Percorreu o País de Norte a Sul como fotógrafo da Comissão Geológica do Império e documentou a construção e a modernização das principais ferrovias. Fotografou o trabalho escravo em fazendas de café no Vale do Paraíba e registrou as atividades de mineração em Minas Gerais.”

A exposição exibe ainda uma atividade pouco conhecida de Ferrez, sua atuação no ramo do cinema. A partir de 1907, em sociedade com seus filhos, e já com quase 65 anos, o fotógrafo investiu na distribuição e na comercialização de equipamentos e filmes. Também foi sócio da terceira sala de cinema do Rio de Janeiro, o Cine Pathé, e em pouco tempo seria responsável pela difusão do cinema pelo interior do Brasil.

“Sua busca pela inovação tecnológica esteve sempre a serviço de aspectos de linguagem, como a câmera panorâmica de varredura Brandon que adquiriu na França em 1878, utilizada por ele para consolidar em definitivo a produção de fotografias de grande formato que somente neste momento passam a ter escala para equipararem-se ao melhor da produção litográfica do período”, observa Burgi.

Os retratados de Ferrez são decisivos na compreensão de um determinado momento da história brasileira. Para Burgi, sua atuação como fotógrafo das ferrovias e da Comissão Geológica do Império permitiu com que registrasse extensivamente o território brasileiro. A documentação das fazendas de café do Vale do Paraíba, por exemplo, mostra a expansão dos sistemas de transporte, em especial as ferrovias.

“A economia cafeeira, porém, baseada em um regime escravocrata arcaico e emblemático do poder da elite conservadora do País, ensaiou nesse período uma modernização apenas superficial e de aparência”, comenta o curador, apontando para um sistema produtivo estruturado em torno de uma “escravidão apaziguada”.

“Mesmo servindo ao status quo, essas fotografias não conseguem evitar o registro direto e frontal das fortes expressões dos homens, mulheres e crianças escravizados, revelando indivíduos submetidos a um sistema brutal e anacrônico que se arrastaria até o final da década de 1880.”

Interessado em tecnologia, Ferrez também flertou com a fotografia colorida, além do cinema, construindo um grande arco no tempo. “A carreira fotográfica de Marc Ferrez percorre mais de 50 anos de profundas transformações no campo da imagem, da ciência, da tecnologia e da própria estrutura política, econômica e social do Brasil nesse período. Sua trajetória artística e profissional constitui, portanto, uma plataforma única e singular para a compreensão do País e sua representação, das últimas décadas do Império às primeiras da República.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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