Novos estilistas, donos de pequenas e micro marcas, ganharam as passarelas do São Paulo Fashion Week, no quarto dia de desfiles. É impressionante como a moda precisa do frescor de criadores como Ana Luisa Fernandes, da Aluf, para captar os movimentos emergentes de comportamento. Sua apresentação trouxe vestidos leves de organza (que ressurgiu do nada nesta temporada), em tons claros e suaves. Todos com modelagens sofisticadas, construídas em materiais nobres.
Peças pregueadas e plissadas, calças baggys e tops com babados elaborados foram destaques, ao lado da cartela de tons crus, com toques de verde e de dourado queimado. “A Aluf tem estilo, tem conceito e, importante, tem um produto desejável”, diz Ana Carvalho Pinto, cofundadora do e-commerce Shop2gether.
Enfim, as roupas são lindas, com design classudo. Mas o que impressiona mesmo é como o propósito, o discurso e toda a dinâmica de produção e lançamento de Ana Luisa seguem uma lógica própria. Integrante do projeto Estufa, a estilista faz parte de uma nova leva de nomes da moda da geração millennial que chega agora ao SPFW, ocupando o lugar de grandes marcas que abandonaram o evento (a última foi a Osklen). Todos eles adoram a filosofia do slow fashion, valorizam processos sustentáveis, utilizam matéria-prima nacional têm comunicação direta com o público pelas redes sociais.
“No Projeto Estufa temos marcas que são verdadeiras antenas para a contemporaneidade, cuja a estética é impactada por seu modo de vida, a região onde habitam e sua comunidade. Seu trabalho condiz com a sua verdade”, analisa a jornalista Camila Yahn. Ela lembra que essa renovação já está acontecendo por todo lugar, no Japão, na China, nas semanas de moda de Nova York, Paris e Londres e, naturalmente aqui no Brasil também.
Dessa turma promissora, o maior talento é o de Raffaela Caniello, da Neriage, estreante no line up da SPFW. Apoiada em inspirações do mundo filosófico e intelectual, a estilista de 24 anos exibiu peças com tecidos nervurados, preparados com tingimento especial (destaque para o vermelho-vivo da coleção), e impecavelmente plissados. Seu olhar criativo dessa vez se apoiou no balé de Pina Bausch para criar o storytelling da passarela baseado em movimento – algumas peças foram feitas para “dançar” no corpo. “Sempre quis ser escritora, por isso construo minha moda em capítulos. E gosto de pensar que a moda nacional está vivendo também um novo capítulo, com a nossa chegada”, diz Rafaella.
Outro destaque do dia foi a Cacete.Co, com seu streetstyle meio esportivo, meio anos 90. Nessa coleção, inspirada no culto à tecnologia, Raphael Ribeiro e Tiago Carvalho, diretores criativos da marca, trouxeram malhas e golas altas, complementadas por óculos criados em parceria com a gigante Chilli Beans. Por sinal, a moda criada por novos nomes tem sido muito requisitada pela indústria através de colaborações. Fica uma pergunta levantada pelo jornalista Eduardo Viveiros em seu site Calma: Será que os novinhos podem trazer relevância de volta ao SPFW?
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.