Completam-se nesta terça, 30 de abril, 30 anos da morte de Sergio Leone. Ele morreu em Roma, aos 60 anos, sem ter realizado seu sonhado projeto de Stalingrado, um épico sobre a resistência dos russos na 2ª Grande Guerra. Filho de cineasta (Roberto de Robertis), nasceu em Roma, em 3 de janeiro de 1929. Adotou o pseudônimo de Robertson – filho de Robertis – ao se iniciar na direção. Começou no épico mitológico – Os Últimos Dias de Pompeia, codireção de Mariko Bonnard. E O Colosso de Rhodes.
Em 1964, transpôs o clássico de sabre de Akira Kurosawa, Yojimbo, para o Oeste selvagem e lançou, com Por Um Punhado de Dólares, os fundamentos do spaghetti western. Leone, na direção, Clint Eastwood, um ator americano na época de segunda e cuja popularidade devia-se a um enlatado de TV, Rawhide, e a trilha de Ennio Morricone. Com Leone, o western virou ópera, porque ele adorava os planos próximos, na cara dos atores. Para criar tensão, estendia a duração e utilizava a música.
Seu personagem era o Homem sem Nome, nem de longe um herói. Em geral, um, caçador de recompensas. Foi assim que Clint atravessou Por Uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito, virando astro. Em 1968, com Era Uma Vez no Oeste, Leone fez a súmula do seu western. Em 1971, com Quando Explode a Vingança, despediu-se do gênero que o popularizara fazendo a crítica do mítico conceito da revolução. Em 1983, com Era Uma Vez na América, tentou outro gênero, o filme de gângsteres. Com Stalingrado, pretendia fechar seu ciclo de gêneros com a guerra. Seus filmes fazem a crítica do heroísmo, abordam a morte. O estilo fundamenta-se no uso do tempo, e da música. Pegou um gênero desacreditado pela crítica, o faroeste italiano, e conferiu-lhe nobreza.
ESSENCIAS DE LEONE
O Colosso de Rhodes
Leone inspirou-se numa das maravilhas da Antiguidade, a gigantesca estátua de Apolo que guardava o porto de Rodes. Darios, um herói militar grego, visita o tio que planeja união secreta com a Fenícia para derrotar a Grécia. A exemplo do anterior Os Últimos Dias de Pompeia, a ação converge para o grande terremoto que destrói a estátua de Apolo. Leone fez, em 1961, o que não deixa de ser um disaster movie mitológico, com Rory Calhoun e Lea Massari.
Por Um Punhado de Dólares
O primeiro western. Como Toshiro Mifune no clássico de Kurosawa, Clint chega a pequena cidade polarizada pela disputa entre dois grupos e finge apoiar um. Na verdade, provoca guerra interna que mina os dois grupos e salva a mocinha, Marisol – interpretada pela alemã Marianne Koch. John Wells faz o vilão Rojo, com que Clint duela no final.
Por Uns Dólares a Mais
O segundo western, de 1965. Clint e outro caçador de recompensas, Lee Van Cleef, caçam o notório pistoleiro El Índio, que, à frente de seu bando selvagem, causa uma onda de destruição na fronteira. Ninguém é mocinho, o confronto é mais entre Clint e Mortimer/Van Cleef. Gian Maria Volontè, como El Índio tem a grande cena. Drogado, entrega-se a devaneios de poder e conquista, ao som de Ecstasy of Gold, de Morricone.
Três Homens em Conflito
Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo. O Bom, o Mau e o Feio. Três pistoleiros em conflito – interpretados por Clint, Eli Wallach e Lee Van Cleef. Como se chama um duelo de três? Trielo? O confronto final se dá numa espécie de arena e é grandioso. O terceiro western é de 1966.
Era Uma Vez no Oeste
O começo, com a chegada na estação de trens, evoca o clássico Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann. A estrada de ferro contrata Henry Fonda para intimidar pequenos proprietários. Fonda veste o longo sobretudo esvoaçante de Lee Marvin em O Homem Que Matou o Facínora, de John Ford. Charles Bronson, a prostituta Claudia Cardinale, a trilha de Morricone. Na época, 1968, o filme foi mutilado no lançamento. Com o tempo, foi recuperando sua (longa) duração.
Quando Explode a Vingança
O irlandês especialista em explosivos e o camponês mexicano que vira líder de uma revolução. James Coburn e Rod Steiger no mais lírico e desvairado western de Leone. O tempo e a memória – os flash-backs que contam a história passada de Cobuiren na Irlanda dão ao filme de 1971, uma aura mítica, e trágica.
Era Uma Vez na América
Leone demorou 12 anos para voltar, desta vez, em 1983, com um relato de gângsteres. A Máfia judaica de Nova York, Robert De Niro, James Woods. O último remanescente do grupo volta para descobrir o que houve – quem traiu quem – 30 e tantos anos depois. O som do telefone que atravessa o filme, a bailarina e o devaneio do ópio. A obra-prima de Leone?