A originalidade de Halperin é criada pelo esforço empregado pelo jornalista para deixar em primeiro plano, à vista de todos, no seu livro, algo que foi soterrado na avalanche de material produzido pelos meios de comunicação sobre os últimos anos de vida de Michael Jackson, provavelmente porque ameaçava retirar deste noticiário sobre o cantor seu invólucro mais apelativamente comercial. Algo que a Justiça norte-americana estabeleceu, depois de consumir milhões de dólares dos impostos recolhidos entre os contribuintes dos Estados Unidos, em demoradas e dispendiosas investigações que levaram tanto a duas invasões da residência do cantor, com apreensões de todo tipo de material encontrado nela, como a exames constrangedores do próprio corpo dele, inclusive de seu pênis. Algo, portanto, estabelecido em bases sólidas só obtidas com o emprego de avançada tecnologia de investigação policial e de criteriosa apuração da Justiça: a inocência de Michael Jackson diante das acusações de pedofilia que lhe foram feitas por pessoas interessadas em extorquir dinheiro dele.
Halperin mostra a perversa engrenagem que literalmente moeu Michael Jackson sem que ele pudesse ter a chance de ver devidamente acatada e respeitada pela mídia norte-americana a inocência de seu amor pelas crianças. Uma engrenagem movida por quem procurou lucrar com a destruição física e artística de Michael Jackson apoiando-se na excentricidade de seus comportamentos, transformados intencionalmente em indícios suspeitos contra ele.
O livro do jornalista contém material suficiente para alimentar um extenso sentimento de culpa numa sociedade doentiamente obcecada por dinheiro a ponto de dispor-se a esmagar sem piedade um de seus membros, se isto lhe for lucrativo.
Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP