O maranhense José Sarney não é criticado apenas por ter comportamentos de chefe de oligarquia
Há alguns anos, Sarney quis expressar seu gosto pela leitura. E, produziu uma frase interessante. Disse algo assim: “gosto dos livros porque eles são computadores que não precisam de tomadas elétricas para nos servirem”.
Com sua frase, Sarney mostrou como um antigo meio de comunicação pode ter vantagem sobre a máquina que nos introduziu na era ultramoderna da virtualidade eletrônica. A vantagem do livro, em relação ao computador, ressaltada por ele, é a da portabilidade. Nem de longe desprezível. Algo que outras mídias impressas tradicionais, como o jornal e a revista também têm.
Os computadores nos oferecem imagens em movimento e sons. As mídias impressas só dispõem de texto e imagens fixos. Mas, como estas têm portabilidade, elas preservam gostos e confortos de imenso valor para quem gosta de ler. Com um livro, um jornal ou uma revista em mãos, podemos relaxar nos recostando numa poltrona. Podemos nos instalar numa cama. O conforto físico que obtemos ameniza o cansaço provocado pelo esforço mental, necessário à absorção do conteúdo impresso. E isto facilita o aprofundamento da leitura, nas pausas reservadas à nossa reflexão sobre ela.
E mais: a portabilidade da mídia impressa permite também que você pare de ler quando alguma outra atividade se impõe, sem, no entanto, se afastar fisicamente da plataforma na qual está assentado o texto que está lendo. Você pode retornar à leitura, quando se tornar possível, mesmo que já não esteja no local onde a iniciou. E até, se estiver em trânsito de um lugar para outro.
Já o computador não dá opção: somos obrigados a permanecer sempre diante da tela de seu monitor. Sentados, mas tensionados.
É, assim, sábia a frase de Sarney. Contudo, ficou desatualizada. Porque, há um ano, os maníacos em leitura já dispõem de iPad, um equipamento que junta as imagens em movimento e os sons de um computador com a portabilidade da mídia impressa. Com ele, um leitor pode ler páginas que têm textos e fotos, organizados – e hierarquizados – como nas páginas de livros, revistas e jornais. E, em seguida, se quiser, pode imediatamente entrar no rico universo da internet para aprofundar e ampliar sua leitura.
Por isto, o iPad despertou entusiasmo nos editores de livros, revistas e jornais. Os responsáveis pelas Redações de Veja, Folha de São Paulo, e, O Globo, lembraram deste detalhe, num programa especial da Globo News: nas leituras de páginas no iPad até o movimento dos dedos da mão direita é o mesmo feito pelo leitor dos órgãos impressos.
Já há, portanto, outro tipo de livro do qual Sarney pode gostar. O iPad também não depende de tomada elétrica.
Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP