Em abril de 1963, o papa João XXIII com a publicação da encíclica “Pacem in Terris” lançou uma ponte sobre o abismo que separava comunistas e cristãos
A iniciativa do Papa de propor aquele diálogo foi bem recebida pelos comunistas soviéticos. Naquele mesmo mês, João XXII fez outro gesto de boa vontade: recebeu em audiência privada a filha e o genro do mandatário soviético Kruschev.
Ao mesmo tempo, o Papa, na encíclica “Pacem in Terris” estimulou os cristãos a uma ação social que ultrapassasse o simples assistencialismo: “Ainda uma vez exortamos nossos filhos ao dever de participarem ativamente da vida pública e de contribuírem para a obtenção do bem comum de todo o gênero humano e da própria comunidade política”.
Em acatamento à exortação do Papa, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, propôs, na Páscoa de 1963, um programa amplo de reformas para o Brasil que atingia, entre outros setores da vida nacional, a estrutura agrária, o sistema de ensino, a administração pública, as empresas, a arrecadação de impostos.
Esta iniciativa da CNBB encontrou grande receptividade entre os jovens que procuravam fazer de seu Catolicismo um instrumento de atuação política. No ano anterior – 1962 – um destes jovens, Herbert José de Souza, o Betinho, irmão de Henfil, na época um líder entre os estudantes universitários, escreveu em “Cristianismo de Hoje”: “Não podemos aceitar a tese da religião formalista, estática, voltada para o santo comércio com os santos, na contabilidade das promessas a troco de empregos, favores, notas escolares e recuperações de saúde. Cristianismo das novenas, das devoções superficiais e mecanizadas. Para nós ser cristãos é ser alguém comprometido com a Vida, a História, envolvendo o destino de toda a Humanidade”.
Mas, em 1964, militares brasileiros implantaram uma ditadura no Brasil. Prenderam e mataram padres. Sequestraram um bispo. E exilaram Betinho. Tudo sob o pretexto de “salvar a pátria cristã do Comunismo”.
