Mundo das Palavras

Ficção e realidade histórica

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Num país, como o nosso, cuja população não tem hábito mais profundo de leitura, um personagem criado numa obra ficcional pode facilmente ser visto como uma verdade histórica. Este risco surgiu, por exemplo, quando em 2005, a Rede Globo apresentou a minissérie Mad Maria, na qual o empresário e engenheiro norte-americano Percival Farquhar, interpretado pelo ator Tony Ramos, foi mostrado sobretudo como um capitalista inescrupuloso. Ele era muito mais do que isto, lembrou Carlos Graieb, numa matéria publicada pela Veja, no dia 9 de fevereiro daquele ano. Em sua matéria Graieb mostrou que Farquart também poderia ser mostrado como uma “locomotiva da globalização”, embora tivesse atuado no Brasil, no início dos anos de 1900. De fato, uma das realizações dele, por exemplo, foi a construção do porto de Belém, quando já se aproximava o fim do ciclo de riqueza da História Econômica da Amazônia produzida pela exportação de borracha.


Na construção do porto, Farquhar contou com três outros engenheiros: W. Person, responsável pela drenagem do Vale do México; Elmer L. Corthell, membro da equipe que construiu a embocadura do rio Mississipi, e, Antonio Lavandeyra, o cubano-americano que havia auxiliado na construção do porto de Manaus. Contou, também, com mergulhadores ingleses que assentaram blocos de concreto no cais, como revela Renato Kamp, em “Farquhar e sua história”


Se pôde dispor do auxílio desta equipe internacional, em contrapartida, Farquhar enfrentou quatro diferentes tipos de problemas. Um ligado aos proprietários dos trapiches que existiam na área do porto. Eles tinham de ser indenizados para autorizar a destruição de seus pontos de embarque e desembarque de mercadorias. Outro, com a Stand Oil. A empresa queria ter no porto um depósito próprio de combustível. Outro, com 200 pequenos comerciantes da Doca do Ver-o-Peso que não conseguiriam pagar as taxas a serem cobradas posteriormente pelo uso do porto construído. E, por fim, com a epidemia de febre amarela no Pará. O engenheiro H. C. Ripley, que Farquhar trouxe do Exterior para Belém, morreu, vitimado por aquele mal.


Nada impediu, no entanto, que Farquhar entregasse ao Governo Federal um total de 1.860 metros de cais acostáveis, em Belém, no ano de 1913.


 


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