Nos meados do século passado uma geração inteira de brasileiros idealistas amargou profunda decepção quando os crimes políticos de Stalin se tornaram conhecidos. Isto porque o governo da União Soviética era visto por eles, até então, como exemplar na gestão de um Estado comprometido com a Justiça Social.
Decepção semelhante sofreram, agora, muitos brasileiros que sonharam com um país administrado com maior Ética Social, após a recuperação da democracia no Brasil, no encerramento do ciclo de governos militares posteriores ao Golpe de 1964, quando o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder, depois da posse do presidente Lula, em 2003. Estes últimos brasileiros perderam aos poucos sua fé na superioridade moral do PT, à medida em que detalhes do chamado Escândalo do Mensalão se tornaram públicos, através da imprensa, e, foram julgados pelo Supremo Tribunal de Justiça.
Houve, no entanto, um brasileiro idealista que muito antes disto já havia sofrido com a descaracterização do PT, enquanto organização política comprometida com a elevação do nível de moralidade no tratamento da coisa pública entre nós. César Benjamin havia ajudado a fundar o partido, depois de arriscar sua vida no enfrentamento da ditadura militar, quando aderiu à oposição armada. Ainda se passaria mais de um ano até a sociedade brasileira tomar conhecimento da compra de votos no Congresso Nacional por dirigentes do PT quando ele divulgou uma carta, com o título “O triunfo da razão cínica”, na qual rompeu seus laços políticos com seus antigos companheiros. Nela, indignado, ele disse: “O Partido dos Trabalhadores está morrendo. Nele não resta mais nenhum espírito transformador, nenhuma autenticidade, nenhum impulso vital. Não tem princípios a defender”. Depois, ele acrescentou: “O PT não tem, nem pretende mais ter, projeto de sociedade. Tem apenas projeto de poder. Essa volúpia desenfreada, sem ideal, cria o ambiente propício ao cinismo e à corrupção crescentes, a que estamos assistindo”.
Como se vê, quem se empenha na preservação da aspiração à decência no ambiente público brasileiro enfrenta aquele obstáculo já detectado pelo filósofo Jean Paul Sartre em sua peça “As mãos sujas”. Nela, um dos personagens diz que política só se faz com as mãos enfiadas na merda.