A falta de atenção reinante no ensino do país aos elementos que constituem a complexa identidade cultural dos habitantes das nossas diversas regiões obriga os amazônidas, por exemplo, a se enxergarem através da ótica do eixo Rio-São Paulo, detentor de grande parte do controle político-econômico do Brasil. Por esta ótica, tais brasileiros são reduzidos à condição de seres quase imperceptíveis, pois, através dela, a Amazônia parece composta apenas de vegetação frondosa e rios caudalosos. Grandes extensões de água, cobertas por grandes extensões de céu, como a viu Euclides da Cunha quando, em 1905, chefiou uma missão do Ministério do Exterior que percorreu o Rio Purus.
Como aceitam esta imagem empobrecida de si mesmos, que lhes é imposta pelas deficiências de nosso sistema de ensino, ainda agravadas pelas deformações da comunicação de massa no país, os amazônidas não buscam conhecer sua rica e densa formação cultural. Aceitam aquilo que os franceses recusaram, quando os nazistas invadiram o país dele: a assimilação da crença de que são brasileiros de segunda categoria.
Não surpreende, assim, que ignorem fatos relevantes do passado da região onde vivem, entre os quais, por exemplo, um relacionado à História das Ciências no Brasil. O fato de que, quando se formaram, em Belém, nos anos de 1940, os primeiros alunos da Escola de Engenharia do Pará, fazia cento e noventa anos que a Saga dos Construtores da Amazônia passara a ser enriquecida pelo prestígio social de grandes engenheiros, brilhantes técnicos alemães, italianos e portugueses instalados naquela região como membros da Comissão de Demarcações de Limites, de Portugal.
Aqueles engenheiros europeus, ao longo de meio século a partir de então, executaram o levantamento cartográfico dos caudalosos rios do gigantesco Estado do Gram-Pará, na época independente do Brasil dentro do reino português, com instrumentos rudimentares, os únicos disponíveis na época. Esta tarefa lhes obrigou a se submeteram à penosa adaptação à Amazônia dos anos de 1700, cujos clima, alimentação e costumes eram muito diversos daqueles aos quais estavam habituados na Europa.
Isto é, eles se tornaram heróis da expansão territorial do Brasil. Mas, é claro, são ignorados. Esta triste situação de desconhecimento de si próprio e dos outros brasileiros, que se repete em todas as regiões, gera incompreensões e preconceitos. Piora a vida no Brasil.