O site jornalístico G1, das Emissoras Globo, publicou matéria sobre o constrangimento das atletas dinamarquesas, diante da repercussão alcançada por um comportamento adotado por elas, dias antes, numa praia do Rio de Janeiro: o de retirarem a parte superior de seus biquínis, para exporem seus seios ao bronzeamento natural.
Aparentemente, as atletas acreditaram que aquele comportamento seria visto no Rio de Janeiro com a mesma naturalidade com a qual ele é encarado em cidades da Europa, nas quais as mulheres o adotam para aproveitarem os dias ensolarados em parques de suas cidades.
Razão para acreditar naquilo as dinamarquesas tiveram. Afinal, as mulheres não se mostram quase totalmente nuas nos desfiles de Carnaval carioca? As praias, ali, também não são frequentadas por banhistas mal cobertas por biquínis chamados de “fio dental”?
O que as jovens dinamarquesas, com certeza, não podiam avaliar era a complexidade do nosso comportamento nacional, em vários campos, inclusive no da sexualidade. Neste campo, dentro da nossa cultura, se misturam resquícios da herança do naturalismo indígena com resquícios da tradição de repressão trazida pelos colonizadores portugueses. Aprendemos a sentir prazer em andar nus, entre brisas e chuvas, com os índios. E aprendemos a temer estes prazeres corporais, com os missionários portugueses. Não surpreende, assim, que, no Rio de Janeiro, as mais exuberantes manifestações de sexualidade juvenil sejam exibidas em casas de danças do movimento funk. E que nas vizinhanças delas proliferem igrejas que pregam o medo à ira divina provocada pelo prazer físico descomprometido.
Este mistura de elementos contraditórios só podia gerar um produto tão largamente produzido e consumido entre nós: a hipocrisia. Ele pôde ser vista, por exemplo, no próprio site da Globo. Ali, num dia, foram exibidos os seios das dinamarquesas na praia, como se aquela imagem registrasse um acontecimento de relevância nacional. E, no dia seguinte, foi exibida a notícia do constrangimento das dinamarquesas, como se o site nada tivesse a ver com ele. O máximo da hipocrisia veio na ilustração desta última notícia: a mesma foto nas quais elas apareciam com os seios à mostra. Numa demonstração de que o uso de imagens do corpo feminino despido para aumentar o número de leitores não ficou enterrado no passado de nosso Jornalismo Impresso. Ao contrário, ele retornou na Era da Internet. Inclusive em site de outras empresas supostamente respeitáveis como a que edita a Folha de São Paulo.
Tom Jobim estava certo. Ele dizia: “O Brasil não é assunto para não iniciados.