Quem estuda a História da Cultura de um povo, inclusive a dos habitantes das diversas regiões do Brasil, está exposto a descobertas chocantes. Como, por exemplo, a da atrocidade cometida pelo português Francisco Caldeira Castelo Branco na Amazônia dos anos de 1600.
Foi ele quem fundou em 1616 a cidade anos depois elevada à condição de capital do Gram-Pará, uma gigantesca unidade administrativa do reino de Portugal, independente do Brasil, desmembrada nos séculos seguintes nos atuais Estados do Pará, Amazonas, Maranhão, Acre, Rondônia, Amapá e Roraima.
Após escolher o local onde implantou o núcleo inicial de Belém, Castelo Branco veio a saber que surgira uma revolta de índios contra os portugueses, no Maranhão. Diante desta notícia, ele tomou uma medida com a qual, supôs, iria inibir os índios vizinhos dele em Belém eventualmente dispostos a aderir àquela rebelião. Mandou amarrar os chefes das tribos em canoas postada na Baía do Guajará, em frente à nova cidade. Cada chefe indígena teve o braço e a perna de um lado de seu corpo amarrados numa canoa, enquanto o outro braço e a outra perna foram amarrados num canoa posta ao lado daquela. Concluída esta amarração, ele ordenou que as canoas dispostas paralelamente uma à outra se deslocassem em sentidos contrários. Com isto, os corpos dos chefes indígenas foram dilacerados. A barbaridade, porém, não só não inibiu os índios como, ao contrário, levou-os a invadir o Forte do Presépio, onde Castelo Branco e sua tropa estavam abrigados.
Felizmente, não só este tipo de descoberta faz quem pesquisa História da Cultura. Há, para este pesquisador também descobertas curiosas e divertidas. Como a de que, também na Amazônia, quase 300 anos depois, quando a região vivia sua Belle Èpoque propiciada pela riqueza obtida com a exportação da borracha, as regalias desfrutadas pelos habitantes de Belém iam além do acesso às exibições de companhias de ópera francesas contratadas para apresentações no suntuoso Teatro da Paz. Eles podiam igualmente, quem imaginaria, frequentar sessões de projeções de filmes mudos eróticos. As sessões eram oferecidas pelo cineasta catalão Ramon de Baño, que se organizou para produzir aquela espécie de filmes em Belém mesmo. Ele chegou a encontrar mulheres dispostas a participar das filmagens. Porém, seu projeto fracassou porque não encontrou nenhum homem que vencesse seus constrangimentos diante daquela empreitada. Isto, é claro, 101 anos atrás.
Esta descoberta foi de outro catalão: Pere Petit, pesquisador da Universidade Federal do Pará.