Mundo das Palavras

O PICASSO CHINÊS

Confira a coluna semanal Mundo das Palavras, assinada pelo jornalista e professor doutro Oswaldo Coimbra

Boa parte das relações econômicas mantidas entre si pelos principais países do mundo, hoje, se apóia na pujança da economia chinesa. Mas esta pujança, em contrapartida, também depende do comércio da China com o Exterior.


A interdependência dos países criada pela economia globalizada aproximou os chineses de outros povos e afastou grande parte da desconfiança com que eles eram vistos, poucas décadas atrás. O país dele, então, sob a liderança de Mao Tse Tung, se constituía numa espécie de grande abrigo de demônios do radicalismo revolucionário para ultradireitistas dos Estados Unidos e ditadores militares da América Latina.


Com a atual proximidade com a China surgiu grande facilidade para qualquer habitante das cidades maiores do Brasil que queira se iniciar no aprendizado do mandarim, o dialeto chinês com maior número de falantes. Basta adquirir livros e CDs vendidos até em bancas de jornal. Uma situação muito diferente daquela existente nos anos de 1960 quando o ensino do  mandarim foi introduzido no Brasil, através da USP. Vigia no país a ditadura militar que havia perseguido diplomatas chineses acusados de suposta espionagem.


O primeiro professor de língua chinesa contratado pela USP foi um artista, o pintor Sun Chia Ching. Em suas aulas ele contaria, anos depois, como se sentira agoniado quando, ao desembarcar no Brasil,  ainda sem conseguir se expressar em português, foi considerado suspeito pelos órgãos de repressão política de São Paulo. Seus alunos perguntavam por que ele viera para nosso país, naquele momento. E, Sun dava uma resposta típica de um chinês antigo. Dizia que não aceitou que seu aprendizado de Pintura fosse interrompido. Pois, seu mestre, a quem ele considerava  como o Picasso da China, tinha saído da China e se instalado num sítio bucólico de Mogi das Cruzes. Ali permaneceria por quase 20 anos.


Agora, aquela explicação que Sun deu há quarenta anos, pode ser melhor entendida.  Pois, o valor do ensinamento que ele obtinha com seu mestre  pode ser apreciado na Pinacoteca do Estado. Lá, acaba de ser inaugurada uma exposição das obras de Zhang Daquian, o mestre de Sun. Segundo a Folha de São Paulo, quadros dele como os que estão expostos em São Paulo foram vendidos em leilão e alcançaram um bilhão de reais. Com isto, sobrepujaram valores obtidos até com vendas semelhantes de obras de Picasso.


A exposição das obras de Zhang nos permitiu saber que ele ficou em primeiro lugar numa pesquisa realizada, em 1968, pela imprensa chinesa entre seus leitores na qual lhes fizeram uma única pergunta: quem, para eles, era “O melhor pintor chinês contemporâneo”? Aquele título, porém,  chegou com dez anos de atraso. Pois, em 1958, a Sociedade Internacional de Artes de Nova Iorque já havia dado a Zhang o título de “Melhor Artista do Mundo”.


Sun tinha razão.


 

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