Não é à toa que o país dos norte-americanos se chama Estados Unidos. De fato, o país é um conglomerado de diferentes estados, com grande diversidade cultural, muitos contrastes sociais, leis distintas, permanentemente sujeito à influência do fluxo constante de imigrantes que nele se instalam, muitos latino-americanos. Por isto, quando se diz que os norte-americanos são isto ou aquilo, sempre há o risco da generalização apressada.
No entanto, em poucos momentos históricos recentes cometeu uma injustiça quem chamou o governo daquele país de arrogante. Esta arrogância só cresceu com o esfacelamento dos governos comunistas liderados pela antiga União Soviética, a qual servia de contrapeso para os Estados Unidos na balança do poder mundial. Hoje, o governo estadunidense está envolvido em disputadas de poder com o Irã, o Iraque, a Coréia do Norte, a Palestina, a Venezuela, Cuba. Comporta-se de modo imperial, policiando o mundo.
Tanta força, no entanto, não impediu que mais de 20 crianças norte-americanas de Oklahoma morressem em poucos minutos, vítimas de um fenômeno natural, o tornado que também destruiu grande parte da cidade onde elas moravam. A natureza aparentemente dominada pelas ciências físicas e biológicas, de repente, se revelou incontrolável, impondo a todos nós, inclusive ao mais arrogante dos membros do governo dos Estados Unidos, a lembrança da fragilidade da nossa condição humana.
Do mesmo esquecimento foi acometido o governo de outro país, num quadrante do globo terrestre e em época diferentes. O da Argentina, poucas décadas atrás, sob o domínio da ditadura militar comandada pelo general Jorge Rafael Videla. O militar que – como ele mesmo confessou a um jornalista em entrevista -, havia se convencido, junto com seus companheiros de caserna, de que muitos argentinos teriam de morrer a fim de que a ordem político-econômico de seu país fosse mantida. E, por isto, autorizou a morte de cerca de oito mil de seus compatriotas.
Pois, este militar antes tão poderoso, “Senhor da Vida e da Morte”, como o chamou Ariel Palacios, morreu há poucos dias sentado numa privada da prisão onde cumpria pena por seus crimes, conforme revelou aquele repórter argentino. Isto mesmo, morreu defecando.
Os governantes arrogantes da Terra, portanto, deveriam inscrever nas cabeceiras de suas camas, a frase com a qual Santo Agostinho fulminou a pretensão de quem age como semideus. Aquela que lembra a necessidade de refrearmos o excesso de pretensão porque, afinal, escreveu o doutor da Igreja, “nascemos entre fezes e urina”.