Quando as faculdades de Jornalismo abrigavam estudos sobre os efeitos sociais do noticiário policial sensacionalista, seus alunos aprendiam que ele poderia fornecer modelos de comportamento para pessoas desequilibradas. Isto é, uma pessoa com algum distúrbio psiquiátrico poderia achar que alguém de quem não gostasse deveria ser morta como ela viu relatado em texto sensacionalista, num caso de assassinato impulsionado pelos mesmos sentimentos dela.
O sensacionalismo, diziam então os professores daquelas faculdades, obviamente não tem o poder de transformar todos os leitores contrariados por outra pessoa em assassinos. Tal influência só ocorreria em quem já estivesse previamente perturbado.
De fato, um único tipo de noticiário tem efeito relativo. Porém, o mesmo já não acontece com uma campanha eficiente sustentada por vários meios de comunicação. Neste último caso, se pode modelar determinado tipo de comportamento a ser apresentado por toda uma sociedade.
Há exemplos recentes, ocorridos no Brasil. Poucos anos atrás, era raro o brasileiro que privilegiava o leite materno na alimentação de seus filhos, usava cinto de segurança dos bancos de automóveis, aceitava munir-se de preservativo quando ia ter relações sexuais. Hoje, um brasileiro que não adote algum destes três tipos de comportamento certamente provocará estranheza e inquietação no seu ambiente. Pois, campanhas massivas nos ensinaram a valorizar os resultados que obtemos com a prática deles.
Portanto, de um lado devemos relativizar a influência do sensacionalismo policial no comportamento de pessoas equilibradas. Mas de outro lado, não há como negar a possibilidade de se modelar comportamentos sociais desejáveis com campanhas publicitárias. Desgraçadamente, no entanto, não é com o conteúdo deste tipo de campanhas que os espaços dos veículos de comunicação de massa vêm sendo ocupados há bastante tempo.
Do que mais nossa imprensa trata é de apropriação desonesta do dinheiro público, aquele obtido com o pagamento de impostos e destinado à solução dos graves problemas nacionais nas áreas de saúde, alimentação, moradia, educação, transporte. Assim como de superfaturamentos em obras públicas e lucros exorbitantes de bancos, cartões de créditos, empresas de telefonia.
Na sua inconsequência, no seu imediatismo, parte de nossa elite político-econômica parece pouco se importar se o país estiver se transformando numa grande escola de rapinagem. Como consequência disto, não surpreendem, embora entristeçam profundamente, os dois casos recentes divulgados pelos telejornais, de pais que orientaram filhos pequenos – de não mais que oito anos – a roubarem objetos alheios, num restaurante e numa loja.
Afinal, não é este o tipo de comportamento repetidamente exibido por quem deveria oferecer modelos socialmente adequados?