Ninguém desprezou mais a classe política brasileira do que os militares que promoveram o Golpe de Estado de 1964. Inicialmente, eles derrubaram o presidente eleito João Goulart. E, provavelmente o assassinaram, com veneno acrescentado em seus remédios, como agora se suspeita. Depois, extinguiram partidos políticos, cassaram mandatos, prenderam, exilaram e mataram senadores, deputados, governadores, prefeitos, completamente indiferentes ao fato de os mandatos deles terem sido outorgados pela nossa população. Sobreviveram àquela devastação, em geral, os políticos mais servis, dispostos a tudo para não perderem seus cargos. Até a colaborar na perseguição a seus colegas
A repugnância que sentia quando via o desempenho deste triste papel dentro do Congresso Nacional o jornalista Sérgio Porto exprimiu com o uso em seus textos da expressão “depufede”. O próprio Sérgio morreria com pouco mais de 40 anos de idade. E, seus amigos suspeitaram que a coragem dele foi punida pela Ditadura, com outro envenenamento, provavelmente de seus infindáveis cafezinhos diários.
Hoje, trinta anos depois do início do processo de redemocratização do Brasil, são políticos quem mais despreza a classe política do Brasil. Pois, embora a população não pare de manifestar descontentamento com eles, através de manifestações de rua, muitos parecem inteiramente cegos e surdos, obstinados na busca de poder com objetivos escusos, puramente pessoais. Estão na iminência de levar a ojeriza a eles àquele ponto a partir do qual Sérgio Porto começou a achar que fediam.
Uma situação típica hoje deste momento do país: a da irritação dos telespectadores com aquelas figuras mequetrefes exibidas nas propagandas políticas obrigatórias, todas pagas com recursos públicos, saídas de siglas partidárias escancaradamente de aluguel. Ou alguém consegue acreditar que essa gente tem objetivos elevados, generosos com o Brasil?
No entanto, eles estão lá, incomodando quem, depois de um dia de trabalho, espera se descontrair para enfrentar com honestidade o batente do dia seguinte.
Assim está sendo vilipendiada no Brasil uma atividade que deveria ser respeitada, se fosse voltada para o bem da comunidade, como estabelece até sua própria designação. Afinal, nela já está embutida a velha palavra grega pólis, referente à cidade.
E isto está acontecendo com o concurso de muitos políticos irresponsáveis, movidos por interesses menores, imediatistas.
No entanto, restaurar a confiança na Política é condição indispensável para a preservação da democracia, entre nós. Mas, podemos impedir que os próprios politicos matem esta possibilidade?