Mundo das Palavras

BELEZA BRASILEIRA

Confira a coluna semanal Mundo das Palavras, assinada pelo jornalista e professor doutor Oswaldo Coimbra

Ana tem vinte e oito anos. Quem a conhece precisa pensar um pouco até poder dizer algo sobre o que isto significa. Pois, a idade de uma pessoa, claro, não a explica suficientemente. Ana, por exemplo, é sensível e isto, certamente, não provém de sua idade. Esta sensibilidade de que é dotada vem à tona em vários momentos. Um deles é quando ela fala de seus três filhos.

Pelo mais velho Ana sentiu paixão, tão logo ele nasceu. A vida dela, àquela altura, não estava nada favorável à procriação. Nem do ponto de vista afetivo, nem do ponto de vista material. Mas, por causa desta paixão repentina e intensa por seu menino, depois de vê-lo, ela decidiu: iria ter mais filhos. E encarou outra gravidez.  Foi quando ouviu uma exclamação de sua médica que iria guardar para sempre em sua memória: “Que barrigão".

Por debaixo daquela pele esticada, duas menina aguardavam o instante de irromper na vida de Ana. E de nela se instalarem, fortes e alegres. Ana nunca se queixou do preço alto que paga pela tríplice maternidade. Ao contrário, continua encantada com suas crianças. Demonstra isto se desdobrando para mantê-las alimentadas, vestidas, saudáveis, matriculadas em escolas.

As três têm outro privilégio: contam com a avó – mãe compreensiva e solidária de Ana -, quando ela sai de casa para enfrentar o cotidiano paulistano em busca de recursos que a mantenham na condição de provedora da família. Não é fácil a luta de Ana, como sabe quem vive na grande metrópole.  Na cidade grande, há pessoas excelentes e gente insuportável.  Mas, no convívio com seres tão diferentes, Ana usa invariavelmente tom de voz baixo, educado. Às vezes, sorri com discrição.

Quem está familiarizado com seu semblante introvertido, refinado, já nem se surpreende quando, no trabalho, Ana repete seu gesto costumeiro, dos momentos de folga. Abaixa-se, abre uma grande gaveta. E dela extrai livros, com a satisfação dos antigos garotos que guardavam em toscas caixas de papelão bens igualmente preciosos, unicamente pela alegria que tal equipamento lhes proporcionavam:  botões, tampinhas de guaraná, bolas de gude etc. O caso de Ana é o de quem gosta de ler. Sobretudo, poesia. Especialmente, o poema de Vinicius de Moraes, com o qual convive amorosamente desde sua infância: o Soneto da Fidelidade. Ana, às vezes, sonha que, sem saber como, um dia. vai inspirar o Poetinha a escrever pelo menos um verso sobre ela. Todo mundo sabe: Vinicius adorava as mulheres e Ana nos faz entender perfeitamente por que. Com certeza, iria gostar dela. Alguém duvida? 

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