Mundo das Palavras

Fernando e Patrícia

Coluna do jornalista Oswaldo Coimbra, professor doutor em Comunicação

Os dois eram casados. Ele, presidente do instituto. Ela, sua assistente executiva. Durante sete anos conviveram no ambiente de trabalho. A partir de certo momento, ela passou a entrar diariamente na sala dele. Tinha que ajudá-lo no encaminhamento dos processos protocolados no instituto. Ele gostava do jeito como ela queria decidir tudo: rápido, descomplicado. A certa altura, a esposa dele morreu. E ela se separou do marido. Três anos de viuvez se passaram para ele. E, então, os dois começaram a namorar. De modo discreto. Viajavam juntos às vezes, por exigência dos assuntos tratados pelo instituto. Os amigos dela desconfiavam de que algo fora do trabalho estava acontecendo com eles. Os amigos dele gostavam dela. Sobretudo, pela maneira calma como ela havia se ligado a ele. Ao lado dele, ela parecia natural. “Nem impositiva, nem reverente”, diziam eles.

Dos dois quem tinha um temperamento mais apropriado para tornar pública a relação íntima deles era ela. Uma tarefa que ela começou a executá-la a seu modo. Tatuou a letra inicial do nome dele junto a um coração no pulso esquerdo.

Passaram a viver juntos no apartamento dele. Ela recebia os amigos dele com agrados: bebidinhas e petiscos. E os amigos mais uma vez sentiram que gostavam da companhia dela, nos jantares, nas sessões de cinema e nos concertos a que iam todos juntos. Já ele, foi apresentado aos amigos dela num churrasco. E também se integrou ao grupo.

Hoje, ela o chama de “amore”. E diz que ele é o grande amor de sua vida. Ele parece estar muito feliz.

Esta história de amor contada por Patrícia Campos Melo e Daniela Lima, na edição de 23 de fevereiro, deste ano, da Folha de São Paulo, mostra o modo paulatino, espontâneo, como duas pessoas podem se ligar. Mas, além disto, contém um detalhe explosivo: os 45 anos de idade a mais dele. Ele está com 82 anos, ela, com 37. Uma distância etária que, na história de amor contada pelas jornalistas da Folha de S. Paulo, implode a visão dos relacionamentos físico-amorosos deste tipo estabelecida pelo senso comum, e, solidificada por uma enorme carga de preconceito herdada dos desvios da educação fornecida pelas escolas, igrejas e famílias. Segundo a qual um velho com uma jovem compõe sempre uma dupla suspeita, ridícula, antinatural. O tiozinho de cabelos pintados e a garota malandra que o explora. Não é assim que os vemos?

Mas não é o que acham deles os amigos de Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil, e, Patrícia Kundrat, formada em Marketing pela FAAP, como mostra a matéria da Folha de São Paulo. Uma amiga do casal disse ao jornal que a diferença de idade desaparece quando os dois estão juntos. Esta união “faz todo o sentido”,  prosseguiu a amiga. “Ela trouxe leveza à vida dele. E ele é um amparo emocional para ela”.

Para esta amiga Patrícia sempre fala que não sabe o que vai ser da vida sem Fernando. Acrescentando: “Eu escolhi ser feliz, não importa se por cinco ou dez anos".

 

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