Há algo deprimente no modo como a carreira de Xuxa se encaminha para seu final. Não porque suas músicas não toquem mais nas rádios, nem porque ela esteja há tempos ausente das telinhas de televisão. Tampouco porque a emissora dela, há 30 anos, a Globo, não a tenha inserido ainda na grade de sua programação em 2015, enquanto por jornais e pela internet circulam os boatos de que Xuxa provavelmente terá de assinar contrato com outro canal de menor audiência, se quiser se manter em outro meio de comunicação.
Afinal, nada disto privou-a de rios de dinheiro acumulados ao longo das três décadas nas quais serviu à emissora que, agora, a descarta. Ela está longe de precisar de um emprego para continuar a viver com luxo.
O que deprime na situação atual de Xuxa é a confirmação de que – embora antesregiamente paga – ela foi usada pela Globo, enquanto seu corpo se manteve bonito, graças à sua juventude. Agora, Xuxa é mãe de Sacha, uma adolescente de 16 anos. Portanto, de uma jovem só um ano mais velha do que a própria Xuxa, quando namorou Pelé, então, com 40 anos de idade. E, com isto, começou a se tornar conhecida através das colunas dos jornais que divulgavam mexericos das celebridades.
A filha de Xuxa tem, atualmente, quatro anos mais do que o garoto que contracenou com a mãe dela, num episódio de nu erótico do filme “Amor Estranho Amor”. Xuxa estava com 19 anos. Tinha três mais do que Sacha, hoje.
Agora, mesmo com o declínio de sua carreira, Xuxa pode ser mãe de uma jovem que certamente não precisará usar seu corpo para acumular bens, como ocorreu com ela mesma. Deste ponto de vista, Sacha dispõe de um privilégio que a mãe não obteve de seus pais. No entanto, é Sacha, ninfeta, e não Xuxa,aos 51 anos de idade, quem, em princípio, hoje, teria atrativos físicos para despertar fantasias sexuais em mães e pais dispostos a manter seus filhos cativos da Tv Globo nos horários infantis, como fazia a “Rainha dos Baixinhos” auxiliada por suas Paquitas, no intuito de movimentar uma inescrupulosa máquina de fazer dinheiro que vendia todo tipo de tralha produzida por anunciantes empenhados em transformar crianças nos consumidores vorazes de bonecas, figurinhas, roupas etc.
Como antes sua mãe e as Paquitas, Sacha está dotada depernas rijas e torneadas. Mas, quem sabe, talvez estes predicados já não sejam suficientes para a repetição do sucesso alcançado por Xuxa. Nas últimas três décadas, não ocorreu somente a perda dos maiores encantos físicos da mãe de Sacha. O país também se tornou consciente da gravidade dos danos provocados na formação pedagógica de suas crianças pela erotização precoce delas, como ocorria nos programas da Xuxa. Aqueles programas eram tão inadequados para a faixa etária à qual supostamente se dirigiam que, neles, as crianças, como mencionados antes, tinham uma rainha que os identificava como “baixinhos”, insinuando que a altura natural delas se constituía, a priori, num sinal de estancamento do desenvolvimento físico que elas deveriam ter obtido. A rainha -– má, sem dúvida – empurrava gratuitamente, deste modo, as crianças em direção dos traumas que cercam as pessoas de baixa estatura numa sociedade preconceituosa como a nossa.
Deprime, portanto, sem dúvida, a perspectiva de que Xuxa torne-se só uma tênue sombra do que ela foi, no passado. Porque, mesmo reduzida na amplitude de sua influência, Xuxa sempre trará de volta a lembrança de que, até poucos anos atrás, no Brasil, a inocência das crianças foi manipulada despudoradamente por um grande emissora de televisão.