Qual o mais alto nível de ousadia e sacrifício que um ser humano tem condições de alcançar na busca da concretização de algum sonho seu? O francês Philippe Petit espantou o mundo quando passou a noite de 6 de agosto de 1974, insone, escondendo-se de vigilantes, entre caixas no teto do 110º andar de uma das torres gêmeas do World Trade Center, de Nova Iorque. Por oito meses, ele havia preparado a realização do um sonho: caminhar num fio de aço, sem rede de proteção, a 417 metros de altura. Na manhã do dia seguinte, amigos-cúmplices o ajudaram a estender o fio de aço até a outra torre gêmea. E, como um pequeno pássaro perdido no firmamento, Phillipepôde fazer sua caminhada. Felizmente filmada. Hoje, podemos vê-la no documentário “O equilibrista”.
Demonstração igualmente estonteante de capacidade humana desconhecida foi dada no dia seis de janeiro de 1948, no Rio de Janeiro.Quando, Sérgio Cardoso, um jovem paraense franzino, muito míope, sem ter tido a rigorosa formação de ator de teatro, tirou seus óculos, entrou no palco do Teatro Fênix. Para,durante quatro horas, interpretar um dos papéis mais difíceis da arte dramática, criado pelo dramaturgo inglês Skakespeare, por volta de 1600: o do atormentado príncipe Hamlet. A peça chegou ao fim, e – constatou o mais influente crítico de teatro de São Paulo, naquela época, o ensaísta e professor Décio de Almeida Prado -: Sérgio acabara de passar do anonimato à celebridade de um modo nunca visto antes na História do Teatro Universal. Em todo o país, no dia seguinte, jornais e revistas anunciaram queum grande ator, dotado de gestos elegantes, voz forte e clara, dicção perfeita e segurança em cena, havia surgido, de repente.
Mas, ao contrário do que aconteceu em Nova Iorque, aquela estreia espantosa não foi filmada. E nunca mais pôde ser vista.
