Mundo das Palavras

Teatro de revista, segundo Mara Rúbia

A paraense Mara Rúbia, uma das maiores vedetes do Teatro de Revista do Brasil, descreveu o que era aquela manifestação artística numa entrevista concedida dezessete anos antes de sua morte a José Simão, atual colunista da Folha de São Paulo. Em 1974, o país ainda atravessava a fase mais repressiva da Ditadura Militar Pós-1964. Quando muitos jornalistas se insurgiram contra a censura aos meios de comunicação cultivando a oralidade livre e espontânea nas matérias de entrevistas.  As declarações de Rúbia gravadas por Simão foram transcritas, sem edição, no livro “Folias Brejeiras”. Deste material, retiramos este seu depoimento:  
   
“ 
     Entre 1945 e 1946, fui eleita a Rainha das Atrizes. Walter Pinto foi para a Europa, viu como se fazia Teatro de Revista, trouxe material e montou uma peça maravilhosa. Convidou muita gente para estreá-la, inclusive Oscarito. Então, fecharam os cassinos e o que sobrou dos seus shows levaram para o Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes. Roupas maravilhosas passaram a serem usadas ali, nas revistas, espetáculos com cômicos, quadros de charge política, e, paródias escrachadas de peças dramáticas. 
 
Valia a pena ir ao Teatro Carlos Gomes. Lá havia um elenco de quinze atores e atrizes, e, cenários elétricos como os que Walter via em Paris, no Folies Bergères. 
 
  O gênero Teatro de Revista fazia o público rir. Era a própria descontração. Que começava com a parte visual, a fantasia, de uma categoria que levantava uma vedete, artista que tinha de saber fazer tudo. Eu cantava a música da moda, digamos C´est si bon, com uma letra maliciosa, mas sempre com cara de anjinho. Era a brejeira. Já a Virginia Lane fazia o tipo de mais claramente maliciosa. E a Dercy Gonçalves esculachava. 
 
Quem criou a minha maneira de comunicação com o público fui eu mesma. O público era meu, o teatro era meu.  Fazia o que queria. E fim de papo. Por exemplo, compunha quadros. Dançava. Não muito bem, mas os bailarinos faziam tudo. Me seguravam, jogavam para o alto. Quem realmente tinha estudado balé era a Renata Fronzi. Depois, a cortina se fechava e eu mexia com A, com B. Mas não magoava ninguém, nem dizia palavrões. Era muito gostoso.  
 
Hoje não se pode mais fazer charges da política, nem do dia-a-dia. Por isto, há palavrões. Se você diz alguma coisinha, vai presa. Dizem que você é comunista. Então, acabou aquilo   
 
                                                               ”.
 

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