Mundo das Palavras

A honradez da enxada

 
 
A jovem Kauany Sousa, de 25 anos foi a primeira filha dos agricultores Nilson Pereira e Creuza Alves. Nasceu e viveu com três irmãos numa casa de taipa de um sítio ao qual não chegava o fornecimento de energia elétrica. Chamado de Caraúba Torta, o sítio se localiza na Zona Rural de Almino Afonso, município  do Rio Grande do Norte. Ao reconstituir sua infância ali numa entrevista que deu para a TV da universidade pública de seu Estado, Kauany disse se lembrar de que, desde o começo de sua infância, via seu pai saindo todos os dias para trabalhar na roça, com sua enxada, a fim de dar sustento a ela e seus três irmãos. “Na época, meu pai ganhava vinte reais por semana, e, trabalhava no sol quente, todos os dias. Lembro de ver minha mãe preocupada todos os dias para conseguir dar um prato de comida para a gente. Muitas vezes não tinha. E ela agradecia a Deus quando um vizinho chegava e nos dava alimentação. Às vezes, eu não tinha nem onde dormir”.  Foi debaixo de uma árvore, no espaço cedido por uma vizinha que Kauany começou a aprender a ler e escrever. Mas, assim como seus irmãos, ela também ajudava o pai e a mãe no trabalho de agricultura. “Minha mãe muitas vezes dizia ‘não vá para a roça, não. Quem vai é o seu irmão’. Porém, eu sempre acompanhava meu pai. Gostava. Me sentia feliz de estar ao lado dele, trabalhando. Plantávamos juntos milho, feijão algodão, arroz”.
Faz poucas semanas que Kauany Sousa chegou ao fim de um curso universitário. O de Serviço Social, na Universidade Potiguar. Na festa de sua formatura, quando seu nome foi chamado, ela ergueu no alto da escada do salão um cartaz. Nele estava escrito: “Pai e mãe, meus heróis”. O casal estava a alguns metros dela. Depois, Kauany se abaixou, pegou um objeto que deixara escondido no salão. E levantou-o com as duas mãos. Era a velha enxada com a qual seus pais trabalham ainda hoje. Seu gesto detonou uma onda de emoção entre formandos e convidados. Sobre esta atitude, Kauany, depois, disse naquela entrevista: "Representou a minha luta ao passar quatro anos estudando com muitas dificuldades. Mas também a luta de meu pai e da minha mãe. Foi uma forma de mostrar para as pessoas o que eu consegui através deles. E que eu estava ali por eles. Uma forma de demonstrar meu carinho, meu amor, a minha gratidão por tudo que eles fizeram por mim”.
Dias depois da formatura de Kauany, o site jornalístico da Rede Globo, G1, postou na internet o trecho do vídeo da sua festa em que ela aparece descendo a escada com o instrumento de trabalho dos pais nas mãos. Junto dele, a informação de que aquelas imagens já tinham “mais de 1 milhão de compartilhamentos nas redes sociais”. Kauany, agora cursa Jornalismo.
 
 
 

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