Depois que a foto de um momento do cotidiano de Santiago Fretes, de 10 anos, registrado por sua mãe, a dona de casa de Sabrina Bonomo, foi divulgada na América Latina e na Europa, um jornalista, Leandro Stein, se pronunciou no site esportivo Trivela: aquela imagem é capaz de provocar múltiplas sensações.
Nela, o pequeno Diego vence a barreira – um muro de um 1,70 m – que o separa do Racing, time do seu coração, quando um craque, Diego Milito, se despede do futebol, depois de brilhar no Inter, de Milão. Milito acabara de jogar contra o Temperley – pouco conhecido no Brasil, pois, somente há dois anos, na primeira divisão do campeonato argentino. Ele dava uma volta olímpica no estádio de Avellaneda, a cidadezinha na qual Santiago mora, próxima de Buenos Aires. Santiago, filho de mecânico, não teve dinheiro para entrar no estádio. Então valeu-se de suas muletas, os instrumentos com os quais enfrenta uma má formação congênita. Encostou uma delas no muro e, se apoiando num único pé, elevou-se, até ficar acima do obstáculo. Depois de instalado ali, percebeu que Yamil, amigo da idade dele, o rondava, inquieto por não poder também desfrutar da visão privilegiada. Não teve dúvidas. Ofereceu-lhe sua outra muleta.
Foi esta cena – a de Santiago e Yamil sobre muletas – que Sabrina registrou. Despretensiosamente, sem cuidados de fotógrafo profissional, como fazem as mães, hoje, inúmeras vezes, com seus celulares, no cotidiano de seus filhos. Sobretudo quando suas crianças são superativas, a exemplo de Santiago.
Para Cristina |Perez, repórter da BBC, Sabrina contou : "Santiago pratica futebol, tae-kwon-do, e, anda de bicicleta. No ano passado, foi convidado a esquiar. Aprendeu em dois dias. Em pouco tempo, estava descendo uma montanha de não sei quantos metros. Em casa, quando alguém precisa subir numa árvore, ele sobe primeiro. Depois, ensina os outros a subir, usando sua muleta".
Ao ver a foto que fez de seu filho divulgada pela BBC e pelo jornal espanhol El País, Sabrina teve um susto. O próprio Santiago, segundo Cristina, não entendeu bem a razão de ter sido celebrado algo tão corriqueiro.
Na Argentina, a foto encantou por simbolizar a amizade. Mas, Leandro Stein tem razão. A mesma imagem pode provocar outras sensações. No Brasil, certamente, a de gratidão. Pois lembra pessoas dignas, como o pequeno Santiago, que vivem aqui. E, hoje, estão atingidas pelo cinismo e má-fé de poderosos do País.
