As duas grandes honrarias que o tenente-coronel Jarbas Passarinho recebeu da universidade brasileira redemocratizada carregaram uma grande dose de ambiguidade, em decorrência da repulsa generalizada hoje no ambiente acadêmico à Ditadura Militar implantada no Brasil em 1964 com a firme colaboração dele.
A primeira, de agosto de 2014. O Conselho Universitário da Unicamp confirmou o título de “Doutor Honoris Causa”, dado pela instituição, em 1973, durante a fase mais repressiva da ditadura, a do governo Médici, ao qual ele serviu como Ministro da Educação. Porém, com grande discórdia entre seus membros. De um lado, estavam os que quiseram mantê-lo. De outro, os favoráveis à anulação dele. A vitória dos primeiros se deu por um único voto.
A outra honraria foi proporcionada pelos doutores em História Social na USP, Amarílio Ferreira e Marisa Bittar, que se dispuseram a estudar 55 artigos publicados por Passarinho, entre os anos de 1995 e 2003, em O Estado de S. Paulo, na busca de compreensão do seu pensamento, quase meio século após o Golpe Militar.
Deste estudo resultou o ensaio “Jarbas Passarinho, ideologia tecnocrática e Ditadura Militar”, publicado em 2006, na Revista HISTEDBR, da Faculdade de Educação da Unicamp.
Os pesquisadores tinham encontrado 90 menções aos mesmos temas, os quais reuniram em cinco grupos: 1º) O golpe de Estado de 1964; 2º) A luta armada; 3º) O Ato Institucional n.º 5; 4º) Os governos militares; 5º) A modernização do capitalismo brasileiro”.
Cada grupo temático, eles analisaram num capítulo específico.
Concluiram: “A fidelidade ideológica assumida pelo coronel Passarinho em relação ao regime militar faz com que ele não reconheça a verdade contida em determinadas pesquisas históricas. Agora, aos 86 anos de vida, ele se investe no papel de narrador da ‘verdadeira’ história do período militar. No desempenho da nova missão, condena os historiadores que insistem em contrariar a sua visão histórica dos fatos. Mesmo quando se trata de um episódio, que condenado pelas premissas do tempo ulterior, se tornou indefensável politicamente. É o caso, por exemplo, do AI-5”.
Eles acrescentaram: “O coronel Jarbas Passarinho não é um homem arrependido do seu passado histórico. Muito pelo contrário. Ele se orgulha de ter sido um dos principais protagonistas dos acontecimentos que fizeram a Ditadura Militar. As posições ideológicas que continua defendendo hoje, 40 anos depois do golpe de Estado de 1964, ainda são as mesmas que assumiu durante o contexto da Guerra Fria”.
(Na foto, Passarinho, condecorado pelas Forças Armadas, é cumprimentado pelo General Costa e Silva, segundo presidente da República imposto ao País pela Ditadura Militar, a quem serviu como Ministro do Trabalho entre o anos de 1967 a 1969 )