Em São Paulo, um foi expulso do sindicato dos jornalistas. O outro, proscrito do seu mercado de trabalho.
Cláudio Marques era colunista do Shopping News. Talvani Guedes da Fonseca, repórter da Veja, enviado para Pernambuco.
O ano: 1975. O período: no ciclo da Ditadura, o de nova onda de repressão política sangrenta.
Naquele momento, Cláudio Marques desencadeia uma campanha mentirosa contra a TV Cultura de São Paulo. Chama-a de “Vietcultura”. Diz: o Departamento de Jornalismo da emissora está infiltrado de comunistas como o Vietnã do Norte.
Vladimir Herzog, chefe daquele departamento, então, vê-se intimado a dar explicações na sede do II Exército. Lá, é torturado até morrer. Dias depois, Talvani entra em cena. Divulga a versão falsa da morte de Herzog, apresentada pelo II Exército. Em matéria assinada, no Jornal do Comércio, de Recife garante: Herzog se suicidou, depois de delatar companheiros.
Os dois casos não poderiam deixar de provocar reação contundente na categoria dos jornalistas. As mentiras inventadas por Cláudio e Talvani tinham o intuito de prejudicar Herzog, jornalista humanista e ético, e, por isto já vulnerável num momento de insegurança social do País. Eram crimes punidos pelo Código Penal Brasileiro (calúnia; difamação, injúria e incitação à violência). E mais: os dois com suas mentiras desrespeitaram afrontosamente compromissos essenciais impostos pelo Código de Ética dos Jornalistas com “a precisa apuração dos acontecimentos”, “a real ocorrência dos fatos”, “os interesses sociais e coletivos”, “a oposição à opressão e autoritarismo”.
Seria reconfortante poder acreditar que, hoje, casos como estes não ocorrem mais. Infelizmente, porém, eles estão ocorrendo diariamente na internet. Políticos já expostos a perseguições de diversas ordens – midiáticas, jurídicas, policiais e até físicas -, nesta nova fase de instabilidade do País, são denigridos diante da opinião pública com falsidades veiculadas por sites pretensamente jornalísticos. Dois dos quais, identificados pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação, da USP – Pensa Brasil e Diário do Brasil -, conseguiram a proeza de colocar três matérias caluniosas entre as cinco mais compartilhadas no Facebook, nas vésperas do domingo da votação do impeachment, pelo Congresso.
A do Pensa Brasil anunciou:
“Polícia Federal quer saber os motivos para Dilma doar R$30 bilhões a Friboi".
Já as do Diário do Brasil disseram:
"Lula deixa Brasília às pressas ao saber de nova fase da Lava-Jato. Seria um mandado de prisão?",
"Presidente do PDT ordena que militância pró-Dilma vá armada no domingo: 'Atirar para matar’”.