O dedo levantado nem precisa ser traduzido em palavras. A ofensa pesada que ele carrega logo se torna clara. Embora crie uma incerteza: a quem se destina? Ao público do violinista caricaturado? À música erudita? Aos críticos de arte?
O próprio smugchumb.com – site de língua inglesa que criou a imagem – ajuda a situá-la dentro da carreira de André Rieu. Ali, Rieu é tratado como “Mel Gibson do violino”, isto é, como um ator infiltrado no meio dos músicos eruditos.
Na mesma situação – a de alguém que apenas representa um papel, sem, de fato, ser aquilo que aparenta – Rieu é colocado também no Brasil. Como se vê no artigo “O falsificador”, publicado pela Revista Concerto, assinado pelo compositor Leonardo Martinelli, que é também professor de Estética Musical e Composição. Nele, o musicólogo diz que vislumbra em Rieu “uma lábia simplória e um sorriso charlatanesco que arranca suspiros de sua audiência”.
Para Martinelli, Rieu consegue isto ao criar espetáculos de forte apelo visual, com cenários “dantescos” nos quais há “músicos vestindo fraques de cortes extravagantes e musicistas paramentadas como bonecas de porcelana”. “Os principais estereótipos que orbitam no universo da música clássica – ele acrescenta – são acentuados a ponto da total descaracterização”. Quanto à música, diz Martinelli, “clássica ou popular, ela é invariavelmente travestida em arranjos paquidérmicos”. Os quais “atuam como um rolo compressor que esmaga aquilo que diferentes linguagens e estilos têm de melhor”.
Impressão semelhante, o violinista neerlandês provoca no doutor em Musicologia Joêzer de Souza Mendonça que postou um artigo com título revelador no site Nota na Pauta: “André Rieu é o pior professor de música clássica”. Nele, o autor sustenta: Rieu falsifica a música erudita, e, por isto, deseduca as pessoas.
Joêzer explica: “No intuito de facilitar a audição de obras famosas do universo clássico, ele adultera essas peças, colocando tudo no liquidificador do entretenimento pop. Descaracterizar a música não é nenhum favor a Beethoven ou Chopin”.
Rieu não toca música clássica, reforça ainda Joêzer. “O que ele faz é recortar o trecho mais conhecido de uma peça erudita e, junto com aquelas violinistas e cellistas com roupa de baile de aniversário de 15 anos, alardear que está revigorando a música clássica”.
“Anunciado como o maior violinista do mundo (o que já é uma mentira), Mr. Rieu é o maestro de um grande circo”, Joêzer conclui.