A desconcertante falta de reação observada hoje da nossa população foi ironizado pelo Sensacionalista, num texto escrito com inteligência. O site humorístico forjou esta manchete: “Passividade faz cientistas investigarem se há Rivotril na água dos brasileiros”. Embaixo da manchete um texto com escândalos e medidas oficiais que – imaginava-se – deveriam provocar reações generalizadas de indignação nos brasileiros: corrupção política, restrição do conceito de família, retirada de direitos da mulher, anistia para dinheiro ilegal no exterior, impostos altos sem contrapartida social, garfada na aposentadoria, censura a jornais, nomeação de amigos como ministros para terem foro privilegiado, com aval do posto mais alto da Justiça.
Esta, de fato, lastimável abulia epidêmica, costumeiramente, é associada a duas causas. Uma, a atuação de empresas de comunicação social que negam a seus telespectadores, ouvintes e leitores, as informações com as quais poderiam compreender a real conjuntura político-social do País e como ela os atingem. Outra, a expansão no número de igrejas conduzidas por pastores mais interessados em extrair de seus fiéis seus minguados recursos do que em dotá-los de consciência a respeito de seus direitos de cidadãos.
Quem pode negar a influência destes dois fatores? Mas, não custa lembrar, de novo, se as pessoas são o resultado de suas circunstâncias, elas, em grande medida, criam estas circunstâncias. Do contrário, ninguém teria responsabilidade alguma por aquilo que lhe acontecesse.
Por isto, dotar o educando de condições de administrar a própria existência é objetivo subjacente a todo o processo educacional, em qualquer nível, e, em qualquer ambiente.
Trata-se de dotar o aprendiz da capacidade de perceber – as pessoas, as coisas, os ambientes. Algo que vamos adquirindo, ao longo dos anos. Assim como também da capacidade de organizar mentalmente estas percepções. Uma pessoa perceptiva e reflexiva conquista possibilidades de atuar sobre muitos aspectos da realidade.
Sua atuação será mais ou menos criativa se junto com desenvolvimento das capacidades de perceber, refletir e atuar esta pessoa se assenhorear do direito de dispor de liberdade interior e, for impulsionada por coragem moral. Liberdade interior para a valorizar aquilo que ela percebeu. E coragem moral para afirmar claramente seu pensamento, na ação.
Obviamente, não há Rivotril na água que o brasileiro consome. A inibição sedativa do seu sistema nervoso, que o impede de ter postura firmemente indignada diante dos descalabros que se abatem sobre ele, por infelicidade, não pode ser vista como mero efeito de uma medicação administrada, sem o conhecimento dele.