Diante de seu bebê, a mãe inventa mil modos de dizer coisas doces. Usa muitos diminutivos. Chama-o com diferentes nomes, sem se prender àquele que será registrado em cartório. O bebê, ainda com visão penumbrosa de pessoas e do ambiente, não tem condições de distinguir algo com precisão, nem consegue captar os significados daquelas palavras. Mas sente nelas um calor afetivo, protetor. Um dia, talvez, descubra a Paralinguagem.
Garotinho, ele começará a ouvir histórias como a da Chapeuzinho Vermelho. Com curiosidade aguçada pelo momento em que a personagem atravessa a floresta carregando o lanche preparado por sua mãe. Sem saber, o moleque estará se familiarizando com o modo narrativo de organizar as palavras. Com seus enredos, planos de tempo e espaço etc. E que logo reencontrará nas histórias em quadrinhos, filmes, romances de aventura.
Depois, adolescente, o antigo bebê terá uma vizinha, ou colega de escola, especial. Sentirá vontade de escrever algo para ela, de modo sedutor. Só, então, reparará na sonoridade das palavras. Em suas ambiguidades de sentido, no ritmo de suas cadências. Inconsciente, estará no campo da Poesia.
O tempo continuará avançando. E, mais adiante, homem maduro, no exercício de atividade profissional, ele terá de exibir raciocínio lógico rigoroso na produção de pareceres, relatórios, monografias, teses. Conviverá, então, com a força dos argumentos.
Por fim, o ex-bebê envelhecerá. E quererá registrar, para conhecimento de seus descendentes, a impressão que lhe causaram localidades e gentes surpreendentes com as quais se defrontou. Obrigando-se a medir sua capacidade descritiva.
Tantos usos fará nosso bebê imaginário das palavras! Não apenas por que elas acompanham a existência de todos os homens. Mas, porque, na verdade, vivemos através delas. Somos aquilo em que nos tornamos, quando as usamos. E quando outras pessoas as usam, em relação a nós.
As palavras são um milagre, diz Steven Pinker, em “O instinto da linguagem”. Com que nos habituamos, ele acrescenta. Já que bastam uns poucos ruídos de nossas bocas para que, com elas, moldemos imagens e ideias, acontecimentos reais ou fictícios, nos cérebros de outras pessoas. Sem telepatia.
Sonoras, se faladas. Visuais, quando escritas. Com poderes mágicos, como acreditamos na infância – (“Abre-te, Sésamo! ”). Com cargas eróticas, nas rústicas mensagens das paredes de banheiros. E, na mais refinada Literatura.
Quantas dimensões elas têm!