Nada mais revelador daquilo em que se tornou a chamada Grande Imprensa, no nosso País, do que o fato de o maior astro do último congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, realizado há poucos dias em São Paulo, ter sido ninguém menos que Rodrigo Janot, Procurador Geral da República. A autoridade para a qual a Polícia Federal encaminha os resultados de suas ruidosas investigações sobre corrupção política. Algo até há pouco tempo inimaginável por quem conheceu o trabalho de repórteres como Antônio Carlos Fon. Que, durante a Ditadura Militar, foi processado pelas Forças Armadas, sob a acusação de ter colocado em risco a Segurança Nacional, quando levou seus leitores a conhecerem os tenebrosos porões onde presos políticos eram torturados e assassinados, quebrando o monolítico silêncio imposto pelo Serviço de Censura, da … Polícia Federal.
O endeusamento de Janot numa reunião de repórteres investigativos retrata este triste estágio da História da Imprensa Brasileira, no qual a pesquisa jornalística dá lugar à simples divulgação pelas mídias daquilo que a Polícia Federal apresenta como apreensões em escritórios e residências de políticos colocados sob suspeita.
Não surpreende assim o que ocorreu no recente episódio da invasão do Palácio do Planalto por um adolescente, dentro do carro de seus pais, só imobilizado já no terceiro andar daquele prédio oficial, depois escapar dos tiros disparados por guardas. O incidente foi seguido por outro, semelhante, dias depois, quando o Palácio do Jaburu, em que se abriga Michel Temer e família, sofreu a invasão de uma jovem de 23 anos.
A explicação dada pelos jornalistas, convencional e preguiçosa, foi a mesma oferecida habitualmente nos noticiários de suicídios – fatos que as publicações primam por desprezar: perturbações mentais. No primeiro caso, por uso de medicação psiquiátrica. Por bebedeira, no segundo. Como se fosse fácil, hoje, no Brasil, manter o equilíbrio mental, quando no País impera um clima de hospício.
Na verdade, ao longo da História Universal, sacrifício de uma vida jovem – como a que poderia ter ocorrido com a do adolescente no Planalto, se os guardas palacianos atirassem com melhor pontaria – só se registrou em sociedade amedrontada, como busca ritualística de alcançar a paz ante forças ameaçadoras – reais ou imaginárias. A aceitação em imolar o bem mais precioso desta sociedade – a força vital que lhe garantia sobrevivência e renovação – demonstrava, em si, um modo anormal de funcionamento. Uma patologia social carente de cura.
Exatamente o que afeta o Brasil atual. Ninguém duvide: a falsa trivialidade vista pela Grande Imprensa na tentativa de suicídio político cometida pelo adolescente mostra o quanto a sociedade brasileira está doente. Amedrontada por juízes, que geram insegurança e indignação, políticos traidores, empresários delatores, “grandes” jornalistas tendenciosos e todo o bando restante.