Mundo das Palavras

Quando o Pequeno Príncipe ficou órfão

Num dia 31 de julho, como o deste ano, Antoine de Saint-Exupéry procurou se acomodar na cabine do piloto de um Lockheed P-38 estacionado na base aérea norte-americana da ilha de Córsega, no Mar Mediterrâneo, a oeste da Itália. No calendário da 2ª Guerra Mundial, menos de um mês antes dos nazistas serem expulsos da França pelas tropas aliadas. Ele ia fotografar do alto Lyon.  
Instalar-se ali não era uma tarefa fácil para um pioneiro da aviação que, no ano anterior, tinha completado 4.600 horas de voo, em mais de duas décadas de atividades.  Aos 44 anos, Saint-Exupéry mal cabia naquela cabine. Dali, seu corpo, pesado e imobilizado, não poderia ser salvo pelo uso de paraquedas. Sentia dores, heranças da incrível sucessão de desastres aéreos que tivera. Por isto, movimentava, com dificuldades, sua cabeça quando avistava algo nas laterais de sua aeronave. 
Para piorar sua situação pela torre de controle lhe chegavam mensagens em inglês, que não entendia bem. E ainda havia os freios hidráulicos, novidades daquele avião com as quais não estava familiarizado. 
Tantos obstáculos não demoraram mostrar seus efeitos. Exupéry já tinha destroçado outra aeronave americana, antes. Por isto, se na França, ele era tido como gloria nacional, na ilha mediterrânea, os americanos o viam apenas como um velho grandalhão, desastrado no uso das tecnologias modernas de voo. 
Portanto, não surpreende que, ao assumir o comando do Lockheed P-38, avaliado, hoje, em 1 milhão e 300 mil dólares, tenha ouvido esta admoestação do líder dos pilotos, o coronel Leo Gray, um negro que enfrentara muito preconceito racial até chegar a seu posto: "Se você vai morrer ou não pela França, não ligo a mínima. Mas não destrua nossos aviões". 
Exupéry, como é sabido, jamais levou voltou à Córsega. O local onde seu avião caiu só foi identificado 60 anos mais tarde.
Seus próprios amigos acreditam que ele buscou a morte. Seus livros, com a aventura da exploração poética do céu, eram apreciados por filósofos e escritores contemporâneos, como os que se manifestaram após seu desaparecimento: 
André Gide: “Por todo lugar onde Exupéry ia, levava alegria”. 
Raymond Aron: “Saint-Exupéry é o mais insubstituível dos seres”. 
Martin Heidegger: “O Pequeno Príncipe é a mensagem de um grande poeta que alivia qualquer solidão”. 
Jean Paul Sartre: “Contra o subjetivismo e a quietude de nossos predecessores, ele soube desenhar os grandes traços de uma literatura do trabalho e da ferramenta”.      
 
 
 

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