Mundo das Palavras

Mbappé e os herdeiros da Xuxa

É assustador o nome que as grandes empresas – suas patrocinadoras – lhes dão. Como a Coca-Cola, a Adidas e o Itaú. Chamam-nos de “influenciadores”. Porque com esta palavra são designadas pessoas que conquistaram o poder de agir sobre a formação moral-intectual de crianças e adolescentes, sem terem de assumir qualquer compromisso com a Educação, ou pelo menos, com o respeito aos Direitos Humanos Universais. Como demonstrou, recentemente, um deles – considerado como um dos maiores "influenciadores" do Brasil, no espaço virtual da internet, maciçamente freqüentado hoje por internautas infanto-juvenis -, ao veicular mensagem preconceituosa contra o talentoso jogador Mbappé, da seleção da França, por ele ser afrodescendente. 
 
Os tais “influenciadores” "não são atletas, artistas, ativistas, nada disso", escreveu Roberto Dias. "Sua vida profissional gira em torno de fazer qualquer coisa que lhes dê seguidores e likes, depois oferecidos ao mercado publicitário", ele prosseguiu. "A maioria inexistiria como figura pública não fossem as plataformas sociais", escreveu ainda Roberto na matéria “Inflados influenciadores”, publicada pela Folha de São Paulo. Em contradição, com o UOL, pertencente ao mesmo grupo que detém o controle do jornal, e  que se intitula “a maior empresa brasileira de conteúdo, serviços digitais e tecnologia, com vários canais de Jornalismo”. No final de 2016, a UOL incentivou abertamente crianças e adolescentes a se submeterem aos tais “influenciadores”, ao postar a matéria "Inscreva-se, curta e acredite".
 
No sub-título, o UOL propagandeou "Youtubers criam relação de confiança com milhões de seguidores em busca de fama e para faturar com marketing". Depois, no final da matéria, ensinou “O caminho da fama e da fortuna”. Passo a passo, com desenhos didáticos ilustrando o  texto abaixo transcrito literalmente: 
 
"Qualquer pessoa pode criar um canal no Youtube e se cadastrar para exibir publicidade. Para ser monetizado (transformado em dinheiro) o conteúdo deve ser 100% original. Quanto maiores a frequência de posts, tempo de visualização e engajamento do público (curtidas, comentários, compartilhamentos) maior o ganho. O pagamento se dá por transferência internacional para conta bancária do criador. A maior parte do faturamento dos mais famosos vem de 'ações' ligadas a marcas (merchandising, patrocínios, publicidade direta). Para ganhar seguidores, o youtuber participa de várias redes sociais. O criador pode se associar a uma agência que gerencia sua carreira e busca novas oportunidades de negócios. Com a popularidade vêm outras fontes de renda e exposição: livros, filmes, produtos licenciados, shows e eventos, atuação em TV, patrocínios, contratos de publicidade etc". 
 
Como se vê, no caminho apontado pelo UOL não há parada para estudo das implicações éticas e psicológicas da atuação dos “influenciadores”. 
 
Assim, uma nova geração de brasileiros vulneráveis pode estar sob o risco da mesma influência desastrosa que atingiu seus pais. Devido à ação de “influenciadores” poderosos. Entre os quais, destacadamente, os Trapalhões, atualmente vistos como mestres do desrespeito a afrodescendentes, mulheres e nordestinos. E a Xuxa, responsabilizada por educadores pelo incentivo de crianças ao consumo de todo tipo de tralha. Erotizando-as precocemente, quando isto dava lucro a patrocinadores.  
 
(Ilustração: Caricatura de Elaine, postada no blog Alma de Tinta)
 

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