Mundo das Palavras

Precisa de professor quem acessa a internet?

É possível que frente à abundância de textos disponíveis na internet – com um número de informações infinitamente maior do que aquelas que pode deter o mais ilustrado dos profissionais de ensino, em muitos anos de carreira – alguém suponha que, um dia, no futuro, os alunos ficarão dispensados do convívio de sala de aula com seus professores.
 
            Ficarão? 
 
Um telefone celular ligado à internet, por maior que seja a quantidade de informações contidas nos textos postados nela, estará sempre limitado a oferecer a quem o use aquilo que for pedido a ele. Dificilmente, poderá, algum dia, dar a seu usuário aquilo que um aluno obtém em sala de aula por meio da comunicação face a face com seu professor. Isto é, empatia e estímulo decorrente da crença no valor das potencialidades humanas – aquilo que torna a Educação uma aposta na capacidade das pessoas de se auto-aperfeiçoarem permanentemente -, alcançáveis através do convívio do professor com seu aluno.
 
Com a assimilação de dados fornecidos pela internet se consegue um tipo de formação intelectual da qual estará sempre ausente o fundamental num processo pedagógico: o confronto entre duas personalidades – a do aluno e a do professor. Um confronto que se dá, em sala de aula, por meio das instituições de ensino ou apesar delas, como lembra o educador Moacir Gadotti, em seu livro “Comunicação docente”.
 
O professor, destaca Gadotti, não é um livro que se folheia, nem mesmo um perito que se consulta porque ele também persegue um designo pessoal através de sua ocupação de ensinar. Por isto, o professor fornece mais do que um saber, já que traz com ele um querer-saber, um querer-dizer, um querer-ser. “Tudo isto faz dele uma coisa diferente de um simples transmissor de saber”, diz o educador.
Aquilo que as máquinas, como celular, computador (ou televisão e rádio), podem fornecer é a mera transmissão das informações reconhecidas socialmente como necessárias a alguém de determinada profissão. Corresponde ao nível mais baixo da comunicação do professor com seu aluno, sustenta Gadotti.
 
O professor oferece algo muito mais valioso porque, além de um saber ou de uma técnica, ele ensina a verdade humana, mesmo que não pretenda, ou a administração de sua escola não o pague para fazer isto. Numa sala de aula – afirma o educador -, ainda que nenhum professor julgue que se ocupa com a formação espiritual dos alunos, de fato, todos os professores se ocupam com ela. Isto porque com sua presença e com os seus testemunhos, o professor acaba demonstrando o que é existência humana, confirmando, assim, para o aluno o sentido e o valor da própria vida dele. “É desta verdade que o mestre dá testemunho”, conclui Gadotti.
 
(Ilustração de Sanäa K, artista de origem marroquina radicada ne França)
 

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