Padres serão torturados, de novo? Indagou o jornalista Kiko Nogueira, há poucos dias, num texto postado na internet. Depois que o site do jornal O Estado de São Paulo revelou que cardeais brasileiros foram monitorados secretamente, até durante encontros com o Papa Francisco I, pela ABIN – Agência Brasileira de Inteligência -, por decisão do governo Jair Bolsonaro.
Estes encontros, ocorridos dentro do Vaticano, tiveram por objetivo a realização do Sínodo Sobre a Amazônia. Que reunirá, no próximo mês de outubro, em Roma, bispos de todos os continentes. A fim de que a Igreja Católica possa se manifestar, como instituição, sobre a situação dos povos indígenas e dos quilombolas, da Amazônia, assim como sobre a questão das mudanças climáticas provocadas na região por desmatamentos.
Segundo o jornal, o governo brasileiro considera estes temas como próprios da agenda da esquerda política. Uma avaliação que introduz, na conjuntura política atual, a eventualidade do ressurgimento de um confronto com a Igreja Católica como aquele ocorrido durante a Ditadura Militar. Quando, autoridades eclesiásticas, entre as quais dom Hélder Câmara, arcebispo de Recife, foram vigiadas pelo SNI – Serviço Nacional de Informações. E um dos auxiliares de dom Hélder, o padre Antônio Henrique Pereira Neto, foi morto, aos 29 anos de idade, com facadas e tiros, depois de ter sido torturado, numa intimidação aos católicos descontentes com o regime implantado no País.
Aquele martírio de brasileiros, como o do Padre Henrique, ficou reproduzido em esculturas de Guido Rocha, artista plástico mineiro, hoje, nome de rua, em Belo Horizonte – ele próprio um preso político torturado pela Ditadura. Nos seus Cristos Crucificados, Guido fixou os semblantes e os corpos de pessoas que ele viu na prisão.
Para o Estadão, neste momento, o “Planalto vê a Igreja Católica como potencial opositora”. E a fim de conter o avanço da instituição religiosa que detecta junto às lideranças da oposição, “equipe de auxiliares de Bolsonaro tentará convencer o governo italiano a interceder junto à Santa Sé”, assinalou o jornal. Tal ousadia, tomada assim, ostensivamente, não tem antecedente histórico. Nem na complicada relação do Nazifascismo com o Papado de Pio XII, durante a Segunda Guerra Mundial.
A equipe de auxiliares – revela ainda o Estadão -, se valerá do “bom momento” de que desfruta o governo brasileiro junto às autoridades da Itália, “desde o esforço do presidente Jair Bolsonaro para garantir a prisão de Cesare Battisti”.
Numa ação diplomática, prossegue o jornal, que mobilizará os representantes da Itália e do Vaticano, no Brasil. E, os embaixadores do Brasil – na Itália, e, no Vaticano.
Eles terão a missão de “pressionar a cúpula da Igreja” para minimizar os estragos que o Sínodo pode trazer ao governo brasileiro. Já que o evento terá destaque na mídia internacional.
(Ilustração: Guido Rocha com suas esculturas)