Mundo das Palavras

Palavra não é invenção. É milagre

As palavras têm sonoridade, embora nem sempre prestemos atenção nisto. E, se você souber encadeá-las, terão ritmo, também.
Por isto, há poetas que parecem ignorar o sentido literal delas, contido nos dicionários, para explorar sobretudo seus elementos sonoros. E esta mistura intencional, das palavras com a música, tem tradição secular na História da Poesia.
 
As palavras têm, também, visualidade. Quando impressas nas páginas dos livros são manchas. Por isto se pode escrever um poema sobre ondas do mar, e, ao mesmo tempo, desenhar este tema poético, dispondo seus versos, no espaço da página, em linhas que sobem e descem.
Algumas palavras têm poderes mágicos, nas lendas infantis, e, nas histórias em quadrinhos. Quando pronunciadas, paredes de pedras se movem em cavernas. Um homem comum adquire superpoderes.
 
Em algumas culturas, se acredita que basta recitar algumas palavras, dentro de uma determinada ordem, para conseguir a intervenção de poderes supra-humanos na realização de desejos disfarçados, mas profundos.
 
Em outras culturas, se acredita, há palavras dotadas de tanta força que sequer podem ser pronunciadas, sem se correr o risco de sofrer penoso castigo, como aquelas palavras que se referem ao demônio, por exemplo.
 
Por outro lado, há, também, culturas nas quais se supõem que uma escolha inapropriada de palavra para expressar a ideia de Deus, pode empobrecê-la. Portanto, para designá-lo, o melhor seria usar a palavra que nega a possibilidade de expressá-lo verbalmente. Chamam-no, então, de Inominado.
 
Há palavras que nos ligam a ambientes e a espaços físicos nos quais elas são usadas frequentemente. Assim, basta ouvir uma pessoa dizer algumas frases para conhecermos o seu nível de escolaridade ou intuirmos a região geográfica de onde ela provém.
Por fim, as palavras podem conter energia sexual. É possível obter estímulo para o prazer físico somente através do uso de palavras, como mostra a produção universal de literatura erótica. 
 
Som, ritmo, mancha, fórmula mágica, força erótica – quantas dimensões as palavras têm!
 
A habilidade de usá-las todos nós temos. E a usamos tão naturalmente que nos esquecemos de nos maravilhar diante desta obviedade: as palavras são um milagre, como nos lembra Steven Pinker, em sua obra admirável “O instinto da linguagem”.

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