Sobreviveu a ambos, graças a Marieta Severo. Nela achou o apoio de que necessitava para se manter de pé, mentalmente equilibrado.
Quando casaram, Marieta tinha 20 anos, e, Chico, 22. Viveram juntos 33 anos, e, tiveram 3 filhas.
Jamais alguém viu Marieta se aproveitar da fama de Chico. Ou leu qualquer comentário desagradável dela, quando o casamento terminou.
Marieta é um monumento de dignidade, discrição e talento.
Na verdade, foi Marieta quem emprestou o prestígio de seu talento a Chico, quando fez parte do primeiro elenco, da primeira peça de teatro dele, “Roda Viva”, em 1968.
Com pouco mais de 20 anos, ela vinha de atuações no Cinema (“Society em Baby Doll”), no Teatro (“As Feiticeiras de Salém”), e, na televisão. Já tinha integrado o elenco da novela Sheik de Agadir, da TV Globo, no papel da Princesa Éden de Bassora.
Sua carreira promissora foi interrompida para acompanhar Chico, num autoexílio na Itália. A primeira filha do casal, Sílvia, nasceu sem o aconchego dos familiares deles.
Em 1970, eles retornaram, animados por falsas informações sobre o País. Que, na verdade, enfrentava o período mais sangrento da Ditadura. Sobre Chico desabaram as piores ameaças. Pois, ele não negava sua solidariedade às famílias de presos políticos. Silenciado pela Censura e pela TV Globo, mal podia ajudar no sustento deles.
Marieta foi trabalhar na TV Tupi. Logo engravidou de Helena, e, em seguida, de Luísa. De novo, teve de parar de trabalhar. Conseguiu voltar, em 1978. No filme “Chuva de Verão” e na peça musical “Ópera do Malandro”, de Chico. E, no ano seguinte, no filme “Bye, Bye, Brasil”.
Nos anos 80, houve a redemocratização. E o talento de Marieta explodiu. Em novelas, seriados, filmes. Teve vinte e oito papéis na televisão; 42, no cinema; 32, no teatro. Ganhou os prêmios mais cobiçados por artistas, várias vezes: Mambembe, Governador do Estado de São Paulo, Moliére, Shell, APCA, Festival de Gramados. Sessenta e dois prêmios, no total.
No dia 7 de junho de 2015, a Folha de São Paulo publicou sobre Marieta: “É reconhecida pela crítica como uma das mais competentes atrizes, em todos os segmentos de atuação”.
Portanto, Chico pode dizer, com orgulho, para filhas e netos: “Marieta, sim, é uma mulher de verdade”. Não a Amélia, da música de Mário Lago. Mas, a Zeli, do mesmo Mário. Com quem Mário casou e teve cinco filhos, entre as nove prisões que ele sofreu, por ser comunista. À Zeli Mário saudava, assim, quando, preso, recebia uma visita dela: – Como vai, companheira?
(Ilustração: Marieta e Chico, com Sílvia, numa maternidade da Itália)